quarta-feira, 28 de junho de 2017

ÉTICA PARA O NOVO MILÊNIO

ÉTICA PARA O NOVO MILÊNIO

        E aquele pecador desejou libertar-se da imensidão de todas as suas culpas. Ao assumi-las por inteiro, depara-se com uma dificuldade, enumerá-las. Mas está decidido,  então, queda-se penitente e diz: “senhor padre, só não matei, nem roubei, o resto fiz tudo”.

        Com certeza, muitos de nós vivemos posando como pessoas absolutamente éticas. Afinal de contas, somos discretos em todo nosso falar e agir, procuramos sempre dizer a palavra certa, na hora certa, evitamos qualquer coisa que possa melindrar o outro e na nossa vida profissional, situamo-nos sempre nos exatos limites das nossas atribuições e até em termo de espaço.
 
        Admitimos que a busca do lucro quanto mais alto possível, cortar apenas aquela árvore que está diminuindo um determinado espaço, deixar de apagar uma luz desnecessariamente acesa, não fechar uma torneira que está pingando, atirar lixo em via pública, enfim, não poupar qualquer gasto desnecessário, ou mesmo não evitar um esforço maior por parte de quem quer que seja, o de quem varre a via pública, e outros tantos congêneres são comportamentos aéticos?

        Em outros tempos foi possível a famílias viverem isoladas em uma extensão de terra, seus integrantes viverem cada um por si e pelos demais somente, plantarem juntos para comer o que colhessem . Hoje, quanto mais após a globalização, a interdependência  parte dos indivíduos,  passa pelas comunidades,  cidades e nações e alcança o mundo.

        Não há nada que afete um dos homens que não repercuta entre todos. Projeta-se na longevidade dos anos e irá atingir as futuras gerações e não se pode dizer: “por mais incrível que pareça”!  É crível sim, os dados e os fatos o atestam. Basta querer ver, ouvir, constatar.

        Não basta não ser homicida ou ladrão para não ser pecador, não basta ter-se criado uma redoma e nela ter-se enclausurado, para se poder dizer: sou ético.

        Nosso conceito de ética há de ser revisto, precisa ser acrescido de pressupostos novos nos quais ainda não tenhamos pensado, importa acrescentar-lhe novas nuances, dilatar-lhe os confins, se é que ética os tem.

        A onda de violência já não pode ser debitada apenas a fatores sociais ou às causas que determinam a pobreza. A perda de valores culturais como por exemplo, apenas para citar um, a que sofreram os povos indígenas, inclusive em relação às línguas que falavam. Por que hoje tenho que falar português e não tupi-guarani?

        Um vírus poderosíssimo infectou as máquinas que somos, destruiu nossas reservas de outros princípios morais que detínhamos, impede que aflorem os que se encontravam latentes e mantém muitos amordaçados.

        A configuração em que se mira a sociedade moderna carece de um esforço conjunto que determine a  possibilidade do desmascaramento de tudo que impede nossa marcha rumo ao sol. Urge crer na impossibilidade de ser feliz sozinho e nem mesmo a certeza da brevidade da vida console, quando se tratar de ser ético, pois, os netos dos nossos netos carecerão de um mundo mais  "vivível".

        Um ponto de partida pode ser a cooperação no sentido de preservar o meio, já que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público (mas também a toda) coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. (CF art 225).

        Alguns do mundo empresarial, ao menos já estão cientes de que sustentabilidade não se separa do desenvolvimento e já não admitem crescimento sem erradicação da pobreza.


        Quem entender isto, admitirá a necessidade de se reconceituar ética, tal qual dela carece o novo milênio que avança sempre mais.