segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

A MORADA HUMANA

Não é da casa que falo, mas daquela parte do mundo que cada indivíduo separa para si, que a faz do seu jeito, para ali se abrigar permanentemente e que está sempre em construção; que deveria ir modelando de forma a torná-la melhor  habitável,  mais segura. Trata-se do ethos = ética, que em grego significa a morada humana. “Ético, por sua vez, é qualidade do que ajuda a melhorar o ambiente tornando-o morada saudável: moralmente sustentável, psicologicamente equilibrada, espiritualmente fecunda”.

Se perguntarmos à maioria das pessoas o que é ética, dificilmente  nos responderá, ou seja, não saberá fazê-lo usando palavras, mediante emissão de um conceito. Mas terá tais reações e expressões que acabará por fazer entender que sabe do que se trata. Dará exemplos, usará outros argumentos, por fim, pode ser que diga que sabe o que é,  mas não sabe responder.

Esta última é a realidade. É verdade que todo mundo sabe o que é ética, até porque é pela ética que se move, quando se  surpreende,  aprovando ou reprovando condutas. Tem dentro de si solidamente esculpidos,  princípios basilares que lhe ditam o pensamento crítico e é mediante ele que oportunamente se expressa. Há uma unanimidade entre  todos os seres humanos sobre a realidade de fatores como justiça, igualdade de direitos, de todos os direitos, dignidade da pessoa humana, a serem por todos preservados e que, se inversamente  ocorrer, sucederá o caos,  a subversão da ordem.

Não é o mesmo que moral, ainda que a ela continuamente se associe.

Ser ético é uma exigência humana, haja vista que todas as profissões legalmente constituídas e reconhecidas redigem, mediante princípios basilares, regras disciplinadoras da conduta pela qual se devem pautar seus integrantes no exercício profissional e a elas denominam “código de ética”.

Partindo-se  de tais pressupostos, é forçoso reconhecer a degradação moral em que mergulhou o país, principalmente no que se refere ao mundo da política.

Constitui-se verdadeira oposição à ética o espetáculo circense onde  detentores dos mandatos por nós confiados, se mostram indecorosos,  pautam-se por normas tão indignas e desonestas no trato com a coisa pública, fazendo pouco caso dos que estamos nas bases, como se fôssemos imbecis.

Ah que bom se pudesse ser dito “em verdade, em verdade, verás que um filho teu não foge a luta”!  E houvesse,  se não unanimidade,  ao menos maioria, um número suficiente de bons cidadãos e cidadãs  brasileiros que queiram inverter o que ai se vê.

Ser ético é também não fazer de conta que não está vendo o que de mal acontece ou perdoar inconsequentemente quem tanto mal já fez.

Mas por que estou eu aqui a falar de ética  se a maioria não me pode compreender, por nos constituirmos em uma população a qual é negado o bem da educação e da cultura,  na medida certa; se somos um país com fome, onde é considerável  o risco de morrer antes de ser atendido por um médico ou pela falta do remédio que ele receitou, pela falta do dinheiro para comprá-lo; onde a ciência e a tecnologia não estão a serviço da ética; quando tremula sempre mais a sustentabilidade ambiental do desenvolvimento; onde se torna cada vez mais distante a independência econômica que nos permite olhar de igual para igual para quem não tem o que temos e mesmo assim nos domina?

É... talvez me mova a esperança que falando de ética, faça com que quem precisa se lembre que ela existe.