segunda-feira, 1 de junho de 2015

AQUELES BRACINHOS

Rachid é minha irmã, Cedric, um dos seus dois filhos, deu-lhe um neto, Daniel, lindo como a lindeza, bom como a bondade, carinhoso como todo carinho, de uma ternura indizível. Convivia mais comigo, antes de ir morar em Vila Velha. Durante quatro anos, eu ia buscá-lo quase diariamente na saída da “Escola 1° Mundo” que frequentou.

Simpatizou com o meu título em relação a ele: tia avó. E assim sempre me apresenta.

Quando vem dormir comigo, coloco o colchão da cama do quarto dele, ao lado da minha cama, pois sempre preferiu assim.

Um dia, devia ter uns três anos. Ele dormia no seu quarto. Eis que altas horas, acordo com sua voz em tom mais alto:

- Usse!  e abaixando o tom: chega prá lá para eu dormir com você. Trazia na mão o travesseirinho.
Acomodou-se ao meu lado e dormimos os dois na minha cama de solteiro.

Eu digo que o quarto é dele, mas só serve para brincar, na hora de dormir, o colchão tem lugar diferente. E agora desde cedo tudo é assim  arrumado.

Na última sexta-feira, 29 de maio, quando acabou de curtir o tablete, brincar do que gosta, lanchar, mais uma vez deixou o colchão e arranjou-se como pode ao meu lado, na sobra do meu colchão.

Devo ter dormido antes dele porque de costume o acomodo no colchão. Lá pelas tantas, acho que de tanto ceder espaço para ele, cai da cama. Imediatamente vi-o levantar-se, acendeu uma lâmpada do banheiro, a que usamos para semi-iluminar o quarto e vejo aquela figurinha abaixar-se a minha frente e estender os bracinhos como se quisesse me levantar, ideia logo abandonada, inconscientemente, percebeu que não eram tantas suas forças.

Na minha ginástica para levantar-me, porque havia colocado uma cadeira muito próxima e ainda tinha a mesa de cabeceira me travando, fotografei esse gesto singular que jamais se apagará da minha lembrança. Aquele vulto desse menino muito especial e querido abaixado perto de mim, cabelos encaracolados, estendendo os bracinhos, a intenção era erguer-me. Parecia o Menino Jesus do presépio.

Vendo que me levantara, me recompus e deitei, fez o mesmo sem dizer palavra, no colchão dele, sabia que dois ali no meu, não é que cabia e logo adormeceu.

A imagem ficou. Com prova inequívoca do que também justifica ser tão amado. 


17:57

Vitória, 1 de junho de 2015