Eu
sei que são praticamente as mesmas, seja de onde quer que tenham vindo ou fato
do qual se originaram. O certo é que, como eu as conheço, são crendices
mateenses.
Sempre
foram transmitidas, como se diz de pai ou mãe para filhos, de geração à geração
e faziam parte dos próprios costumes. Contadas pelos pais então, revestiram-se
de indesmentível veracidade. Eu que o diga. Devia ter lá pelos meus oito para
nove anos de idade e vi minha mãe espantadíssima depois de uma noite em que o
vento uivou com toda força. Disse que não havia dormido, porque o Saci assobiou
toda a noite rodando a nossa casa.
Saci
não era então este moleque travesso e simpático de quem as crianças não têm
medo e até correm atrás, onde quer que ele apareça, imitando-lhe os pulos ou o
que mais fizer. De capuz, cachimbo do
lado da boca e tudo.
Tudo
para concluir muitos anos depois, que o que realmente acontecera foi o uivar do
vento penetrando por gretas existentes em janelas de madeira, então sem
suficiente vedação.
Ai,
ai, quem me convenceria de tomar banho depois de uma refeição? Bastou que me
tenham dito: faz mal, nunca me disseram o mal que faz. Nunca me disseram, nem
eu perguntei.
Nem
morta eu tomaria um copo de leite se tivesse comido abacaxi ou chupado uma
manga, quanto mais, comeria uma banana à noite.
Coitado
daquele nenê, filho de uma prima, com o qual me deparei com forte soluço. Dei
um grito perto do “bichinho”. Tomou um susto tal – como foi meu propósito – que
disparou a chorar convulsivamente, mais prejudicado que antes. Levar susto para
acabar com soluço? E dai que quem mais se assustou fui eu.
Ai,
ai, ai, encontrar um gato preto em dia de sexta-feira, quanto mais se for um
13, o azar vai bater na sua vida e fazer estrago. De jeito nenhum, deixe um
chinelo ou sapato com a sola virada para cima, “sinal de morte certa para sua
mãe”. Que horror!
Você
trabalhou o dia todo, depois do jantar, era a hora mais propícia, aparecia
aquela visita na sua casa, marido, mulher, os filhos e conversa, conversa... lá
se vai chegando a meia noite... Rápido, pegue uma vassoura e coloque-a virada
atrás de uma porta. É tiro e queda, os visitantes se despendem e vão-se.
O
número sete ligado a maravilhas do mundo antigo e outras virtudes, é a conta do
mentiroso. Agosto é o mês do desgosto, não se case nele, o casamento não vai
vingar. Sua sorte pode ser ainda qualificada de má, se cantar na quaresma, pois
vai virar mula-de-padre. Passar debaixo do arco-íris? nem pensar, vira
mula-sem- cabeça. Corra e vá se benzer urgente, não antes sem jogar fora o
espelho quebrado, pois lhe causará sete anos de mau agouro.
Não,
por favor, não coloque sua bolsa no chão, seu dinheiro vai acabar. Coma sete
sementes de romã e verá quão grande será sua posteridade. Ou ainda, achando uma
ferradura, pegue-a, leve para casa, pregue um prego atrás da porta de entrada e
a pendure, com ela chega a sorte. Igualmente, bons resultados podem ser obtidos,
se você carregar um pé de coelho no bolso, ou encontrar um trevo de quatro
folhas.
Chi,
você comeu muito chocolate, a prova está no seu rosto cheio de espinhas. Não
por favor, não revire os olhos porque está ventando e você pode ficar caolho.
Garanto que você apontou estrela com o dedo, olha a berruga (com b mesmo) do
seu dedo. Tá doida, criatura, não arranque esse fio de cabelo branco da sua
cabeça, no lugar dele, vão nascer dois.
A
enumeração iria ainda mais longe, por enquanto, fiquemos por aqui.
Não.
Só mais uma para completar. Não sabe aquela figa? Constituída de uma mãozinha
fechada com uma parte do braço? Nossa, usar uma era obter muita sorte. Em ouro,
adornaram desde colos enormes de madames até peito de criancinhas. Pouca gente
sabe sua verdade.
Diz-se
que superstições e crendices foram trazidas pelo colonizador, pelo negro
escravizado, enfim é tudo coisa importada... Incrustou-se na nossa cultura, fez
parte da vida de muitos no papel de ingênuos ou dos que os manipulavam como é o
caso do senhor de escravos que dizia a estes para não comer manga, porque tinham
jantando (apenas) um copo de leite. Podiam “assaltar” as mangueiras, por
exemplo. Ufa!
Acho
que fiz um registro e se quem ler se sentir de qualquer forma ameaçado, não se
perturbe, não me queira mal, o remédio é simples, basta bater três vezes com os
dedos de sua mão fechada em qualquer madeira e diga: isola.
Boa
sorte.
Vitória,
1° de dezembro de 2015 23:30