sábado, 31 de janeiro de 2015

O ASSASSINATO DA NANDINHA



                                      
                                                    
                        Ademir Azevedo de Moraes  
 31-08-12

— Burro! Idiota! Imbecil!.

— Isso. Foi isso que ouvi num barzinho quando souberam que eu matei a Nandinha.

— Mas... O quê!!! Você matou a Nandinha? Eles estavam certos. Você é um desalmado, um assassino frio e cruel. Matar a pobre coitada?
Acadêmico Ademir A de Moraes

— Eu... um assassino... frio e cruel... Nunca pensei nisso!

— Claro que não. Isso mostra o quanto a sua índole engana a todos. Carinha e jeitinho de gente bem, mas por detrás desta máscara, esconde-se um monstro, mas... espere! Nós podemos faturar com isso.

— Faturar? Como?

— Ora, você gostava da Nandinha?

— Claro! Eu a amava muito, muito, muito, era paixão mesmo.

— Isso! Você cometeu um crime passional.

— Mas... só porque matei a Nandinha, cometi um crime passional?

— Sim. Crime por amor. E nesse país que mata por amor emociona a todos. Já estou até vendo as manchetes nos principais jornais: Homem mata por amor. Homem lava sua honra com sangue. Os anais de televisão em cima e você fazendo cara de quem está sofrendo muito e repetindo:gente, eu a      amava... eu amava a Nandinha. Eu quero a Nandinha. Sua história vai correr mundo. De repente sua       vida vira até filme.

— Tudo isso por causa da Nandinha?! Já estou com saudades dela.

— Aí meu camarada. É assim que se fala. Você vai comover a nação, o país vai se mobilizar com sua  história , já que aqui milhões de pessoas se mobilizam por uma parada gay e outras mais,

      mas não param para prestarem atenção em seus representantes e por isso, muitos fazem o que bem  entendem e, por uma causa como a sua, todos vão parar, chorar, se emocionar. Temos que contratar um bom advogado.

— Um advogado? Só por causa da Nandinha?

— E você acha pouco? Com o que você a matou?

— Com uma faca.

— Uma faca?! Você será enquadrado no artigo 121 do código penal e sua pena deverá ser só de uns sessenta anos de cadeia, já que de acordo com a Lei nº 8072/90, tornou-se crime hediondo e você ainda feriu  o princípio da dignidade humana, segundo o artigo 5º da Constituição Federal. Bem, pelo menos lá você terá comida de primeira qualidade e vai ganhar até um salário.

— Nunca imaginei que uma simples morte causasse tanto alvoroço!

— Você realmente é uma montanha de gelo. E como você a matou seu desmiolado.
— Foi assim: Cheguei em casa por volta das 18h, cansado do trabalho, suado. A chamei e ela veio rebolando, um andarzinho charmoso. Peguei-a em meus braços, passei a mão pelo seu peitinho e depois por suas coxas roliças. Fiquei alucinado! E ela ficou ali, em meus braços, quietinha e eu sentia até o seu calor. De repente a coloquei no chão, peguei a faca e impiedosamente a passei em seu pescoço.  Ela gritou, esperneou  e esvaiu-se em sangue até ficar imóvel. Coitadinha!

— Coitadinha? Você é mesmo um animal irracional. Não sei onde estou com a cabeça que não te dou uns murros.

__Pode dar quantos murros você quiser, eu mereço. E depois eu a comi...

__Você o quê?! Comeu!!! Além de assassino é um necrófilo. E ainda fala  desta imoralidade com a maior calma do mundo? Você vai pegar prisão perpétua, seu... seu...

—O que é que isso gente! Assassino? Ne.. ne... nem sei falar essa palavra!  Mas eu estava com fome. Não tinha nada em casa para comer. Agora, nem seus ovos os terei mais...

— Fome?!  Ovos?!  Mas... você está falando de quem?

— Ora, de quem mais seria? Da Nandinha. Minha galinha de estimação.

— Ora seu... seu... Esse tempo todo você falando de galinha e eu preocupado pensando que fosse gente.Passe bem.

— Passar bem? Como? Com um salário tão mínimo? Eu estou é com saudades da Nandinha.Nandinhaaaaaa!!!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

LEMBRANÇAS DE NAIARA



                            Marlusse Pestana Daher

Ao sopé daquele morro,
Onde aquele rio corria perto,
Transcorri os verdes anos
De uma infância feliz.

Se era pobre nossa morada
O amor de mamãe não nos faltava
De roupas limpas nos ornava
Chinelo de pneus nos calçava.

Ao sabor da brisa ora,
Ora ao toque de ventos uivantes,
Acima e abaixo corríamos,
Energia em nós, abundava.

E o espetáculo anual da enchente
Para meu deliciar, se repetia
Não pedia permissão para chegar,
Não dava adeus, quando partia.

Assim, em cada dia, eu lá estava,
Sentada no mesmo lugar
Horas e horas ainda eram poucas
Pra satisfazer meu contemplar.

Águas barrentas traziam
Tudo que em seu curso encontrassem,
Pedaço de cobertor, pedaço de pano velho,
Uma meia, uma saia de mulher.

Identificar era a alegria,
Cada qual a disputar quem mais?
Mas todas as vozes se calavam
Quando se tratava de restos
Ou corpos de animais.

E a água ia,
Célere como quem quer chegar
Ao seu destino certeiro,
Outro curso dágua ou o mar.

Disso não é que
Àquela altura eu já soubesse
Mas me encantava sempre,
A cada instante, um pouco mais
Ver água em abundância, rolar.

Chegava,
Inundava,
Passava,
Esvaziava,
Ia...

Só não foi de mim
E certamente jamais se irá,
Ela...
Sua lembrança,
Sob o azul do céu
Ao lado do verde da relva
Da altura do morro,
Daquela criança a sonhar,
...a enchente.



Em São Mateus - verão de 2015

domingo, 18 de janeiro de 2015

EM NOME DA ORDEM PÚBLICA?


Inaugurou-se na pátria, um novo tempo de caça e punição de quem é culpado. 

Assim, após anos passados, a cada dia, tomamos conhecimento de mais um nome a engrossar a lista dos gulosos de colarinho branco no episódio cognominado: “petrolão”.

Mas não é extensivamente ou por reflexo o que acontece na outra linha social, formada pelos menos aquinhoados do poder-dinheiro. Nela,  continua a haver mais rigidez, não raro mesclada com alguma displicência, talvez para que o agente, a sua hora, prove, mesmo que seja suposta,  sensação de dever cumprido. 

É desastroso, olvidar princípios e os próprios direitos fundamentais.

Pode acontecer: dois de capacete roubam um celular, três são presos. Na lavratura do auto de prisão em flagrante, aconselhados pela defesa, reservam-se o direito de só falar em juízo. O outro que confessou ser sua, a arma do crime, fala, vislumbrando suposta possibilidade de aliviar seu peso, incrimina o segundo, que nada com o caso tem a ver.

Se delegados que imagina-se saibam melhor conduzir as oitivas no auto de prisão em flagrante, que depois virão a assinar como se presentes estivessem ao ato, deixarem por conta dos escrivães,  podem  até vir a assinar um despacho, do qual conste uma declaração atribuída a quem se calou.

Se uma prisão de culpado já deixa transtornada uma família, imagine-se o que acontece, quando o clã tem certeza da inocência do seu pertencente, parte para busca de provas irrecusáveis como da presença do tal, em outro lugar que aquele onde se deu o crime, de seu bom caráter, de várias outras boas provas. É desastroso, tudo acrescido do peso que sempre decorre do sentimento que causa sofrer uma  injustiça.

Constitui advogado, que peticiona ao Juiz, que antes deverá ouvir parecer do Ministério Público. Ao órgão, portanto, compete examinar com toda acuidade possível a prova, confrontá-la com as alegações que o requerido sustenta e dar seu parecer.

Seria desastroso se, em nenhum momento se reportasse às provas juntadas ao pedido, deixasse de tudo confrontar com prováveis lacunas do auto de prisão em flagrante, e,  ao invés, pegasse aquele longo parecer, “rascunho de plantão”, onde vai mudar somente números ou nomes, em nenhum momento se reportasse às provas, e em nome de pseudo direito ou ordem pública, opinasse pelo indeferimento, desconhecendo as consequências que de tudo  podem vir a ocorrer.

Com a Constituição Federal de 1988, o Ministério Público se tornou muito mais capaz de exercer em toda extensão, a grandeza de seu ofício e disto nunca se pode olvidar.

Ao MP compete manter a esperança que a sociedade em suas mãos e no seu discernimento depositou, ou pode vir a desmentir a definição que lhe deu a Carta Magna do país.


Lamentável!

17/01/2015

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

BATISMO DE JESUS



Ao domingo da Epifania, sucede o domingo do batismo de Jesus.

É um dia rico no conhecimento do projeto da salvação. Ao manifestar-se aos reis magos, Jesus se manifesta a outros povos, aos que estão além dos limites de Jerusalém e redondezas. 

No ato do batismo, João está ocupado nos seus misteres de percursor, anunciando, batizando, Jesus se aproxima e vejam só o que vai no diálogo que travam. João manda perguntar a Jesus, se é Ele mesmo o Messias, ou se devia ser esperado um outro, ao que Jesus responde, não dizendo textualmente, sim sou eu, mas fazendo notar: diga a João que mediante o que faço, cegos voltam a ver, coxos voltam a andar, surdos voltam a ouvir.

São curas dos corpos deficientes, mas como nós sabemos, ali estavam embutidas as curas dos pecados, dos males da alma, porque as deficiências do corpo são muitas vezes, reflexos do que vai na alma.

Deste modo, Jesus comprova que só sendo o Messias podia realizar o que estava realizando aos olhos de quantos pudessem ver. 

Ao ser circuncidado no templo, Jesus aceitou sua humanidade, batizando-se, mais uma vez  demonstra a necessidade de cumprir tal ritual como preparação para a missão que devia iniciar. O batismo é, portanto, a porta para a vida cristã. 

Jesus, verdadeiro homem, verdadeiro Deus, Caminho, Verdade e Vida.
                                                           

5 Minutos com Maria
  Rádio América AM 690

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

TODOS SOMOS RESPONSÁVEIS

Circulou via e-mail e muitos recebemos o seguinte: “A ONU resolveu fazer uma grande pesquisa mundial, cuja pergunta era: "Por favor, diga honestamente, qual sua opinião sobre a escassez de alimentos no resto do mundo."

        O resultado considerado desastroso ou um total fracasso, revelou que cubanos pediram maiores explicações sobre o que é "opinião"; os europeus desconhecem "escassez"; enquanto  africanos não sabem o que são "alimentos", argentinos ignoram  o significado de "por favor" e finalmente, que os norte americanos perguntaram o significado de "o resto do mundo".  

A mesma pesquisa revelou que no congresso brasileiro ainda está ocorrendo um debate sobre o que significa  "honestamente".

        Galhofando, o criador da idéia ensejou a quantos dela tomaram conhecimento,  reflexão séria sobre realidades concretas e situações que retratam a diversidade de vida que levam os povos em diferentes continentes ou nações.

        Quem não sabe que não obstante as aparências, o regime cubano é mesmo de opressão? que não há unanimidade de europeus que não sabem o que seja escassez.  Que, no entanto, é fato que os africanos carecem de alimentos, pois da Somália, do Sudão e de outras plagas ecoa perene um pranto-lamento de fome, de dor e de muitas  tristezas que só os surdos não ouvem.  Está movido de rivalidade esportiva, quem diz, generalizando, que os argentinos desconheçam “por favor”. Até que são simpáticos! Mas foi com os Estados Unidos que jogou deveras pesado. E muitos perguntam, será que alguém duvida?  

        É invariável que se chegue a uma conclusão: se a realidade com a qual convivemos e que sobre todos nós se reflete assim se mostra, se convivemos com ela, se pouco ou nada fizemos para mudá-la, podemos dizer que nós também não sejamos responsáveis pelos resultados que produzem ou pelas conseqüências que causam? Todos somos responsáveis! 

        Os EEUU não deram início a uma guerra apenas nestes dias. Pelo que são ou como agem, há muito vêm provocando sentimentos de revolta, sensação de injustiça, desejo de vingança e até de provável tentativa de que entendam que já não cabe, no novo mundo em que o mundo se tornou, a presença de um país que ostente tanta fortaleza, retendo nos limites dos seus confins a riqueza que não advém apenas do trabalho de sua gente, mas, por exemplo, dos altos juros cobrados mediante negócios financiados com sua moeda forte, que subjuga outras economias, que se aproveita da fragilidade de outros países para torná-los em seu depósito de lixo ou quem sabe, financia um empreendimento só para poder em contrapartida, gozar do direito de se eximir de responsabilidades comuns. 

        A quem se puder excluir por não ter contribuído de algum modo, para tudo o que está acontecendo, pode atirar a primeira pedra.

Marlusse Pestana Daher
A GAZETA  15/10/01



           

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

RESULTOU DE PERPLEXIDADE



FELIZ ANO NOVO

Estou aqui pensando, porque fazemos tanta festa com a chegada de um novo ano. Qual é de fato determinante ou  a motivação que se tem. 

O encerramento com celebração de Santa Missa ou Culto para louvar a Deus, que é o Senhor, para agradecer as graças recebidas é no mínimo ser educado, agir com ética e reconhecer que tudo que recebemos vem Dele. O ano transcorrido é situação já vivenciada, trata-se assim, de não poder deixar de admitir o inegável, testemunhamos e/ou protagonizamos.  
  
Mas fazer tanta festa com a chegada de um Ano Novo, verdadeira incógnita do que virá a ser, por que festejar?

Posso analisar os acontecimentos, ante milhares de pessoas que acorrem às praias. É de se questionar se seria para ombrear-se ao irmão Mar que com sua grandeza, ainda que inconscientemente, nos proporciona complementação do que psicologicamente nos possa faltar? 

A maioria se veste de branco. Ritual ou crença de que a cor da roupa possa influenciar o curso dos acontecimentos pelos quais passaremos ou circunstâncias que vivenciaremos. Alguns já terão ido à Igreja do credo que professam e ali, na praia,  quem sabe estejam prestes a fazer uma segunda oferenda. 

Despojam-se dos calçados, a maioria simples sandálias. Caminhar na areia pode representar, conforme o ponto, em alguma dificuldade. Podem ter flores nas mãos, muitas já bailam ao sabor das ondas que pode levá-las mar adentro, ou deixar na areia, ou pela projeção avançada da onda, ou pela falta de força com que a mesma onda, volta a integrar o volume intenso das águas oceânicas. 

Grande parte, meros curiosos, se detém no calçadão contemplando embevecida o entusiasmo dos que caminham pra lá e prá cá. Além é claro, daqueles que se postam nos umbrais de suas janelas ou nas varandas envidraçadas dos apartamentos de luxo, ao longo da orla. 
 
Em determinado ponto, é o frenesi que impera. Em imensos palcos exibem-se intérpretes musicais, os que tocam, os que cantam. Conforme os acordes da melodia que determinam ser projetada no ar, embalsamam a massa, a enlevam, transportam ao infinito, identificam-na com as próprias almas e lhe proporcionam intimidade com as essências das quais se forma ou lhe provocam gestos e expressões enlouquecidas em que predomina o vale tudo, onde a concentração se desfaz e o que importa é delirar. 

E ali, de pé, passam horas a fio aos gritos de saudação idólatra, festejando o que não sabem nem menos o quê. Não se cansam, não veem o tempo passar e permaneceriam ainda mais tempo se as cortinas dos palcos não se fechassem ocultando inclusive, o lucro proporcionado pelo real de tantos – num gesto inverso ao da viúva que despojou-se da única moeda que tinha – que constituiu mais uma vez a riqueza de alguns poucos. 

E autorizo-me a dizer que o paganismo ainda está por ai.

Feliz Ano Novo foi assim que precedentemente as saudações foram feitas. E ao dizer Feliz Ano Novo cada lábio estava cheio de amor, fora feito intérprete de augúrio profundo e sincero do que se deseja para o próximo, ou seja, que se dê bem, que quem não tem, encontre trabalho, que haja pão em cada mesa e que se tenha onde colocar a mesa ou seja uma casa, mesmo que simples, que as pessoas se respeitem, que, em síntese: viva-se em Paz. 

E 1º de janeiro não é o Dia Internacional da Paz? Pois bem!

Depois do sobredito, só posso concluir que é preciso reinventar as comemorações da forma com que as fazemos. É preciso colocar cada coisa em seu lugar. Nós mesmos no nosso lugar. Onde colocaremos Deus? 

Na liturgia da Missa de ontem, 31 de dezembro, o Evangelho segundo João voltou a lembrar: No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus ...       Encerro, não por já ter dito tudo. Prefiro não apresentar formas, cada um tem a sua, mas com a mesma alma que descrevi o momento em que dizemos Feliz Ano Novo, desejo que de nós não se diga que Ele veio para os que eram seus e os seus não o receberam.
Marlusse Pestana Daher
1º de janeiro de 2011 – 9 h 26 m