domingo, 26 de outubro de 2014

O PLANALTO SABIA



Em 1980, no ABC paulista, fundou-se o Partido dos Trabalhadores, que hasteou as bandeiras da ética e da moralidade, além de forma diferente de governar: transparência, honestidade e eficiência, ideário que seduzia quem almejasse mudanças substanciais, sérias e justas. Ledo engano!

Confesso que não ingressei no PT por duas razões: não me convidaram e não sou de me oferecer: “peixe oferecido, está podre ou moído”!

Esperava, como milhões, que o PT, no Poder, efetivando a bandeira da ética e da moralidade”, e adotando “forma diferente de governar”, resolveria, em tempo razoável, os principais problemas do País, sobretudo os centrados na Educação, na Saúde e na Segurança Pública.

Infelizmente, o PT, apoiado na chamada “base aliada”, desde logo revelou seu DNA patrimonialista: conduta promíscua, que não distingue interesse público de interesse privado, de que é parte integrante a expressão sui generis - “eu não sabia” – que tem sido muito usada inclusive por Lula e Dilma, segundo o doleiro Alberto Youssef. Senão, vejamos:

Luiz Inácio Lula da Silva, ainda na Presidência da República, disse que “não sabia” do “Mensalão” e que foi “traído”, para, depois, admitir que dele soube através do ex Deputado Roberto Jéferson (PTB-RJ).

A Presidente Dilma Rousseff, como aluna aplicada, também disse que “não sabia” que o parecer alusivo à compra da refinaria Pasadena  era “técnica e juridicamente falho”, razão do prejuízo de U$ 1.18 bilhão à Petrobras.

A Presidente da Petrobras, Graça Foster, também disse que “não sabia” que desde 2006 havia comitê interno na refinaria Pasadena, nem que, nela, a Petrobras era representada por seu ex-diretor, o “Paulinho”, íntimo de Lula.

O Vice-Presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), usou jato fretado (R$ 100.000,00) pelo supracitado doleiro para ir, com a família, de Londrina (PR) a João Pessoa (Pb). Censurado, disse que “não sabia” que a PF investigava Alberto, seu amigo e “irmão” há 20 anos e chefe de esquema criminoso. Mas admitiu ter sido "imprudente", ao aceitar o “verdadeiro presente de irmão”!

Concluindo, indago: a expressão “eu não sabia”, causadora de danos morais e matérias irreparáveis, é reflexo da cultura de um “modo diferente de governar”, ou é parte integrante da mentalidade patrimonialista, que herdamos  dos colonizadores? Deixo a resposta para quem, por acaso, vier a ler este modesto artigo!

Salvador Bonomo
Ex Deputado Estadual e Promotor de Justiça aposentado
Vitória, ES, 24.10.2014.