domingo, 20 de abril de 2014

O REI ESTÁ NU


Segundo Heráclito de Éfeso (535 a.C.- 475 a.C.), filósofo grego, pré–socrático, pai da Dialética, todas as coisas trazem no seu seio a sua negação, a sua contrária: o bonito traz o feio, novo, o velho, a vida, a morte etc. É a matéria em movimento, em transformação. Em síntese: é a Dialética. 

No auge da prepotência do Regime Militar de 1964, o então Deputado Federal Francelino Pereira disse que a ARENA (Aliança Renovadora Nacional) era “o maior Partido do Ocidente”, ao passo que Martha Suplicy (em 2008) e Luiz I. Lula da Silva (em 2010) disseram que o DEM (o Democratas: ex  ARENA, PFL e PDS) era um Partido em extinção, pois elitista, divorciado da realidade.

Em 1980, no ABC paulista, criou-se o Partido dos Trabalhadores, que hasteou as bandeiras da “ética” e da “moralidade”, prometendo um “modo diferente de governar”, o que encartava transparência, eficiência e honestidade, ideário que impressionava quem aspirasse a mudanças substanciais, sérias e justas.

Sinceramente, eu esperava que o PT, logo que conquistasse o Poder, pondo em prática seu ideário, imprimiria à administração pública novos métodos que, encartando, sobretudo, transparência, eficiência e honestidade, resolveria, em tempo razoável, os principais e crônicos problemas do País, em especial os centrados na Educação, na Saúde e na Segurança Pública.

Aliás, confesso que, naquela ocasião, só não ingressei no PT por duas razões: 1ª) porque não fui convidado; 2ª) porque não admito oferecer-me, pois temo a censura do provérbio “peixe oferecido está podre, ou está moído”.

Ledo engano!, Pois também o PT trazia consigo o germe do patrimonialismo - herança dos colonizadores - que consiste em fundir, confundir, misturar os interesses públicos com os interesses privados, em razão do que, muito cedo ainda, começou a sofrer a metamorfose preconizada pela Dialética.

Senão, vejamos:

- O PT não concordou com o texto da Constituição Federal |88, sob a alegação - segundo Lula, então Deputado Federal – de que ela não resolveria “todos os problemas da sociedade brasileira” (discurso de 22.09.1987), para, 20 anos depois, já na Presidência da República, fazendo mea culpa, dizer que ela era “um garante da democracia, esta é a verdade nua e crua”!
- O PT foi contra o Plano Real (30.07.1994), chegando a taxá-lo de “remendo” e lhe atribuindo “cheiro de estelionato eleitoral”, no entanto tal plano foi coroado de pleno êxito.
- O PT, inicialmente, posicionou-se contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, para, mais tarde, Antônio Palocci (PT), então Ministro da Fazenda, fazendo a autocrítica, dissera: “... a minha bancada, da qual eu fazia parte, falhou. Nós, naqueles idos de 2000, não demos apoio à lei” (LC nº 101|2000)!
- O PT, como já dito, do nascimento à conquista do Poder Central, manteve hasteada a bandeira da “ética” e da “moralidade”, com a promessa de governar de “forma diferente”, mal conquistou-o, passou a copiar práticas populistas e patrimonialistas:

1ª) – práticas populistas, apenas dois exemplos: criação de cotas e de bolsa família  (indignas migalhas, que ferem, de morte, o princípio da dignidade da pessoa humana, um dos fundamentos da República (art. 1º, III, da CF|88), com o que, ao invés de promover o bem-estar dos mais carentes e politicamente menos conscientes, mantém-nos subjugados, escravizados, acorrentados;

2ª) – práticas patrimonialistas, só dois exemplos:  o “Mensalão”, que, em 2005,  acarretou aos cofres públicos federais prejuízo de R$ 284 milhões; a “Operação Lava Jato”, da Polícia Federal, com foco na Petrobras, que gerou aos cofres públicos prejuízo de R$ 10 bilhões.

- O PT, enquanto na oposição, muito pugnou pela extinção da Contribuição Sindical, mas, ao conquistá-lo, apesar de contar com maioria no Congresso, passou a defender, como estratégia, apenas a realização de plebiscito. Por quê?  Porque, entre as (8) Centrais Sindicais, a CUT, ligada ao PT, recebeu dos cofres do Governo Federal, só em 2012, R$ 45,7 milhões!
- O PT, que, antes de conquistar o Poder, tanto lutou pelas Reformas Política, Agrária, Tributária etc., apesar de, tanto no “Governo Lula” como no “Governo Dilma”, contar com maioria no Congresso, e até “comprar votos” para aprovar os Projetos de seu interesse, não realizou nem mesmo a Reforma Agrária, que tanto o empolgava!
- O PT, que, como todo o povo brasileiro, tanto defendia a Petrobras, quebrou-a, e está a quebrar, também, a Eletrobras, pois, em 2012, ela teve prejuízo de R$ 6,8 bilhões, que, em 2013, subiu para R$ 13,1 bilhões, segundo nota de Cláudio Humberto, em A Tribuna, de 15.04.2014.

- O PT, ao suceder o PSDB, encontrou 26 Ministérios (o que já era exagero!). Para bem aparelhar a máquina estatal, criou mais 13, somando, hoje, 39 moedas de troca, enquanto nos Estados Unidos, só existem 15 Ministérios! Em virtude dos 39 Ministérios (moedas de troca!), dos 22.600 Cargos de Comissionados (moedas de troca!), dos milhares (em 2013: mais de 14 mil!) de Emendas Parlamentares, (que, em 2013, somaram R$ 8,9 bilhões: moedas de troca!) e (por enquanto!) 32 Partidos Políticos (cuja maioria é, também, moeda de troca!), criou-se, no Planalto, um verdadeiro “balcão de negócios”: toma lá e da cá”, pois “é dando que se recebe”!

- O PT nunca teve Projeto de Governo. Tem, sim, um Projeto de Poder, para o que aparelhou a máquina estatal, intromete-se, indevidamente, nos entes públicos (ex.: IBGE e IPEA) e manipula estatísticas várias para esconder o que é ruim e mostrar o que não existe (vide ISTO, de 23.04.2014).  

- O PT, que, enquanto oposição, por qualquer pretexto, invocava o legítimo meio parlamentar de fiscalizar os atos irregulares do Executivo, hoje, no Poder, contraditoriamente, impede a instauração de CPI para investigar gravíssimos danos causados a nossa principal empresa estatal, a Petrobras, conduta que nega as tão badaladas transparência e honestidade: “o que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde"!

- O PT, reitere-se, que, no nascedouro, hasteou a bandeira da “ética” e da “moralidade” e prometeu “forma diferente de governar”, o que encartava, especialmente, transparência, eficiência e honestidade, apoiado na dita “base aliada”, revelou-se, também, portador de mentalidade patrimonialista, conduta eminentemente promíscua, que funde, confunde, mistura interesse público com interesse privado, de que me parece ser parte integrante a expressão sui generis - “eu não sabia” – que tem sido frequentemente utilizada como meio de defesa por importantes petistas, em face de atos ímprobos.

Senão, vejamos:

Luiz Inácio Lula da Silva, ainda na Presidência da República, disse que “não sabia” do “Mensalão” e que, naquela ocasião, fora “traído” (por quem? Não revelou!) para, depois, admitir que dele soube através do ex Deputado Roberto Jéferson (PTB-RJ), que denunciara a existência de tal “maracutaia”.

Dilma Rousseff, Presidente da República, como aluna aplicada, também disse que “não sabia” que o parecer alusivo à compra da refinaria Pasadena era “técnica e juridicamente falho”, razão do prejuízo de U$ 1.18 bilhão causado à nossa Petrobras.

Maria das Graças Foste, Presidente da Petrobras, também disse que “não sabia” que desde 2006 havia um comitê interno na refinaria Pasadena, nem que, nela, a Petrobras era representada por seu ex diretor, Paulo Roberto Costa, que fora preso.
  
André Vargas (PT-PR), Vice-Presidente da Câmara, usou um jato fretado (por R$ 100.000,00) pelo doleiro Alberto Youssef, para ir, com a família, de Londrina (PR) a João Pessoa (Pb). Censurado, disse que “não sabia” que Alberto, seu amigo e “irmão” há 20 anos, era alvo de investigação da Polícia Federal, como chefe de esquema de lavagem de dinheiro. Reconheceu, porém, ter sido "imprudente" por aceitar um “verdadeiro presente de irmão”: o aluguel do jato.
Concluo, dizendo que não paira dúvida de que o PT, abandonando a bandeira da “ética” e da “moralidade” e ignorando a tão prometida “forma diferente de governar”, que encartava, sobretudo, transparência, honestidade e eficiência, sofreu tamanha metamorfose, que nos remete ao conto de fadas – A roupa nova do rei – de autoria do dinamarquês Hans Christian Andersen, farsa que, descoberta por uma criança, provocou-lhe a seguinte exclamação: “O REI ESTÁ NU!”

Salvador Bonomo
Ex Deputado Estadual e Promotor de Justiça aposentado
Vitória, ES, 20.04.2014.


BONS DIAS DE SANTAS PÁSCOAS

Lembramos o episódio a respeito daqueles dois discípulos, um deles de nome Cléofas, que depois dos acontecimentos finalizados no Gólgota, desolados empreendiam volta para a cidade de Emaús.


Estavam desesperançados, tendo em vista que jogaram todas as suas fichas no êxito do reino que pensavam que Jesus tivesse vindo fundar e ao contrário, viram-no morrer de forma desumana e cruel sem que dos seus gestos desprendessem, segundo as suas cabecinhas, um mínimo sinal de que fosse o filho de Deus.

Durante a caminhada foram abordados por Jesus num encontro ao longo da estrada por onde comentavam o fato e iam muito tristes. Jesus interroga o que os deixava em tal estado e admirados eles respondemComo então, não sabe que Jesus, o grande Mestre, foi traído e morto covardemente?

Nesse ínterim, os dois chegam ao destino, enquanto Jesus demonstra propósito de prosseguir.

Mas não! Dizem, fazendo com que Jesus ficasse: fica conosco, Senhor, é tarde o dia declina e a noite já vem. Fica, vamos ceiar juntos. Jesus condecede e fica.

Já a mesa,  foi no momento em que tomando o pão, partiu-o,  foi reconhecido e os discípulos exultaram, mas Jesus desapareceu.

- Cara, bem que o nosso coração ardia enquanto Ele nos falava. É Ele, Jesus está vivo! Ressuscitou como disse. 

Supondo que todos tenhamos ressuscitado com Cristo, certamente só nos ocuparemos das coisas do alto. É bom estar muito atento para ouvir o que diz o outro, é a voz de Deus que arde no nosso coração enquanto ouvimos.


É assim, que todos os dias serão bons dias de Santas Páscoas.