Segundo Heráclito de Éfeso (535
a.C.- 475 a.C.), filósofo grego, pré–socrático, pai da Dialética, todas as
coisas trazem no seu seio a sua negação, a sua contrária: o bonito traz o feio,
novo, o velho, a vida, a morte etc. É a matéria em movimento, em transformação.
Em síntese: é a Dialética.
No auge da prepotência do
Regime Militar de 1964, o então Deputado Federal Francelino Pereira disse que a
ARENA (Aliança Renovadora Nacional) era “o
maior Partido do Ocidente”, ao passo que Martha Suplicy (em 2008) e Luiz I.
Lula da Silva (em 2010) disseram que o DEM (o Democratas: ex ARENA, PFL e PDS) era um Partido em extinção,
pois elitista, divorciado da realidade.
Em 1980, no ABC paulista, criou-se
o Partido dos Trabalhadores, que hasteou as bandeiras da “ética” e da “moralidade”,
prometendo um “modo diferente de
governar”, o que encartava transparência, eficiência e honestidade, ideário
que impressionava quem aspirasse a mudanças substanciais, sérias e justas.
Sinceramente, eu esperava
que o PT, logo que conquistasse o Poder, pondo em prática seu ideário, imprimiria
à administração pública novos métodos que, encartando, sobretudo, transparência,
eficiência e honestidade, resolveria, em tempo razoável, os principais e
crônicos problemas do País, em especial os centrados na Educação, na Saúde e na
Segurança Pública.
Aliás, confesso que, naquela
ocasião, só não ingressei no PT por duas razões: 1ª) porque não fui convidado;
2ª) porque não admito oferecer-me, pois temo a censura do provérbio “peixe oferecido está podre, ou está moído”.
Ledo engano!, Pois também o
PT trazia consigo o germe do patrimonialismo - herança dos colonizadores - que
consiste em fundir, confundir, misturar os interesses públicos com os interesses
privados, em razão do que, muito cedo ainda, começou a sofrer a metamorfose
preconizada pela Dialética.
Senão, vejamos:
- O PT não concordou com o
texto da Constituição Federal |88, sob a alegação - segundo Lula, então
Deputado Federal – de que ela não resolveria “todos os problemas da sociedade brasileira” (discurso de
22.09.1987), para, 20 anos depois, já na Presidência da República, fazendo mea culpa, dizer que ela era “um garante da
democracia, esta é a verdade nua e crua”!
-
O PT foi contra o Plano Real (30.07.1994), chegando a taxá-lo de “remendo” e lhe atribuindo “cheiro de estelionato eleitoral”, no
entanto tal plano foi coroado de pleno êxito.
- O PT,
inicialmente, posicionou-se contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, para, mais
tarde, Antônio Palocci (PT), então Ministro da Fazenda, fazendo a autocrítica,
dissera: “... a minha bancada, da qual eu
fazia parte, falhou. Nós, naqueles idos de 2000, não demos apoio à lei” (LC
nº 101|2000)!
- O PT, como já dito,
do nascimento à conquista do Poder Central, manteve hasteada a bandeira da “ética” e da “moralidade”, com a promessa de governar de “forma diferente”, mal conquistou-o, passou a copiar práticas
populistas e patrimonialistas:
1ª)
– práticas populistas, apenas dois exemplos: criação de cotas e de bolsa
família (indignas migalhas, que ferem,
de morte, o princípio da dignidade da pessoa humana, um dos fundamentos da
República (art. 1º, III, da CF|88), com o que, ao invés de promover o bem-estar
dos mais carentes e politicamente menos conscientes, mantém-nos subjugados, escravizados,
acorrentados;
2ª)
– práticas patrimonialistas, só dois exemplos: o “Mensalão”, que, em 2005, acarretou aos cofres públicos federais
prejuízo de R$ 284 milhões; a “Operação Lava Jato”, da Polícia Federal, com
foco na Petrobras, que gerou aos cofres públicos prejuízo de R$ 10 bilhões.
- O PT, enquanto na
oposição, muito pugnou pela extinção da Contribuição Sindical, mas, ao
conquistá-lo, apesar de contar com maioria no Congresso, passou a defender, como
estratégia, apenas a realização de plebiscito. Por quê? Porque, entre as (8) Centrais Sindicais, a
CUT, ligada ao PT, recebeu dos cofres do Governo Federal, só em 2012, R$ 45,7
milhões!
-
O PT, que, antes de conquistar o Poder, tanto lutou pelas Reformas Política,
Agrária, Tributária etc., apesar de, tanto no “Governo Lula” como no “Governo
Dilma”, contar com maioria no Congresso, e até “comprar votos” para aprovar os
Projetos de seu interesse, não realizou nem mesmo a Reforma Agrária, que tanto
o empolgava!
- O PT, que, como todo
o povo brasileiro, tanto defendia a Petrobras, quebrou-a, e está a quebrar,
também, a Eletrobras, pois, em 2012, ela teve prejuízo de R$ 6,8 bilhões, que, em
2013, subiu para R$ 13,1 bilhões, segundo nota de Cláudio Humberto, em A Tribuna, de 15.04.2014.
-
O PT, ao suceder o PSDB, encontrou 26 Ministérios (o que já era exagero!). Para
bem aparelhar a máquina estatal, criou mais 13, somando, hoje, 39 moedas de
troca, enquanto nos Estados Unidos, só existem 15 Ministérios! Em virtude dos 39
Ministérios (moedas de troca!), dos 22.600 Cargos de Comissionados (moedas de
troca!), dos milhares (em 2013: mais de 14 mil!) de Emendas Parlamentares, (que,
em 2013, somaram R$ 8,9 bilhões: moedas de troca!) e (por enquanto!) 32
Partidos Políticos (cuja maioria é, também, moeda de troca!), criou-se, no
Planalto, um verdadeiro “balcão de
negócios”: “toma lá e da cá”, pois “é dando que se recebe”!
-
O PT nunca teve Projeto de Governo. Tem, sim, um Projeto de Poder, para o que aparelhou
a máquina estatal, intromete-se, indevidamente, nos entes públicos (ex.: IBGE e
IPEA) e manipula estatísticas várias para esconder o que é ruim e mostrar o que
não existe (vide ISTO, de 23.04.2014).
-
O PT, que, enquanto oposição, por qualquer pretexto, invocava o legítimo meio
parlamentar de fiscalizar os atos irregulares do Executivo, hoje, no Poder,
contraditoriamente, impede a instauração de CPI para investigar gravíssimos danos
causados a nossa principal empresa estatal, a Petrobras, conduta que nega as
tão badaladas transparência e honestidade: “o
que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde"!
- O PT, reitere-se, que, no
nascedouro, hasteou a bandeira da “ética” e da “moralidade” e prometeu “forma
diferente de governar”, o que encartava, especialmente, transparência,
eficiência e honestidade, apoiado na dita “base aliada”, revelou-se, também,
portador de mentalidade patrimonialista, conduta eminentemente promíscua, que funde,
confunde, mistura interesse público com interesse privado, de que me parece ser
parte integrante a expressão sui generis - “eu não sabia” – que tem
sido frequentemente utilizada como meio de defesa por importantes petistas, em
face de atos ímprobos.
Senão, vejamos:
Luiz Inácio Lula da Silva,
ainda na Presidência da República, disse que “não sabia” do “Mensalão”
e que, naquela ocasião, fora “traído” (por quem? Não revelou!) para,
depois, admitir que dele soube através do ex Deputado Roberto Jéferson (PTB-RJ),
que denunciara a existência de tal “maracutaia”.
Dilma Rousseff, Presidente
da República, como aluna aplicada, também disse que “não sabia” que o parecer
alusivo à compra da refinaria Pasadena era
“técnica e juridicamente falho”, razão do prejuízo de U$ 1.18
bilhão causado à nossa Petrobras.
Maria das Graças Foste,
Presidente da Petrobras, também disse que “não sabia” que desde 2006 havia um comitê
interno na refinaria Pasadena, nem
que, nela, a Petrobras era representada por seu ex diretor, Paulo Roberto
Costa, que fora preso.
André Vargas
(PT-PR), Vice-Presidente da Câmara, usou um jato fretado (por R$ 100.000,00) pelo
doleiro Alberto Youssef, para ir, com a família, de Londrina (PR) a João Pessoa
(Pb). Censurado, disse que “não sabia” que Alberto, seu amigo e
“irmão”
há 20 anos, era alvo de investigação da Polícia Federal, como chefe de esquema
de lavagem de dinheiro. Reconheceu, porém, ter sido "imprudente" por aceitar um “verdadeiro presente de irmão”: o aluguel do jato.
Concluo, dizendo que
não paira dúvida de que o PT, abandonando a bandeira da “ética” e da “moralidade”
e ignorando a tão prometida “forma diferente de governar”, que
encartava, sobretudo, transparência, honestidade e eficiência, sofreu tamanha metamorfose,
que nos remete ao conto de fadas – A roupa nova do rei – de autoria do
dinamarquês Hans Christian Andersen, farsa que, descoberta por uma criança, provocou-lhe
a seguinte exclamação: “O REI ESTÁ NU!”
Salvador Bonomo
Ex Deputado Estadual e
Promotor de Justiça aposentado
Vitória, ES, 20.04.2014.