sábado, 13 de julho de 2013

SÓ CRISTO IMPORTA

A ideologia cristã

É neste palco que surgiu o cristianismo, pregando, a partir da periferia do mundo de então, uma nova ideologia, uma "Boa Nova", que despertava muito a atenção do povo, sobretudo os mais pobres. O Apóstolo Paulo, pregando em língua grega em todos os grandes centros, consolidou um novo modelo de cristianismo que diferia do cristianismo Ortodoxo original, existente em Jerusalém e ao Judaísmo. A grande aceitação do cristianismo entre os gregos e romanos, os gentios,foi porque passaram a se perceber como "depositários da fé e filhos da Promessa".
Opondo-se ao pensamento grego racionalista e teórico, o pensamento semita afirmou a historicidade e dramaticidade da vida humana, o sujeito, a pessoa, a consciência, o sentimento, a irreversibilidade do tempo, a Providência de Deus Pai e a salvação para todos por um gesto misteriosamente eficaz de um "Deus-Homem", Jesus Cristo. Esta era a "Boa Nova" (em grego Evangélion) anunciada de cidade em cidade e que atraía milhares de adeptos bem como incomodava os círculos do poder.
Em Roma, o cristianismo emancipou-se depois de três séculos de contradições e perseguições. Qual seria o perigo que ele representava? Outra vez deixaremos as causas mais históricas e específicas para determo-nos em dois pontos: a pregação cristã e o culto a Cristo. A pregação cristã era dirigida sobretudo a periferia de Roma. A estes povos dominados, massacrados, tidos como "povinho" pela ideologia da superioridade romana; explorados, escravizados e constantemente ameaçados, o cristianismo prega: a igualdade de todos os homens, a filiação divina de todos, a criação e a paterna providência de Deus, a salvação de todos e a ressurreição, uma outra vida para os sofridos e pobres, a caridade para com o próximo e, sobretudo a repartição das riquezas, condição, para a conversão à comunidade "dos eleitos". Isto criou toda uma espiritualidade dos grupos perseguidos, que passou a chamar a atenção dos povos naquele tempo.
Esta plataforma pregada com a tenacidade e o testemunho da morte (Pedro e Paulo morrem em Roma crucificados e decapitados) tem efeito explosivo e transformador. As perseguições aos cristão são, sobretudo, pelo perigo que a sua pregação acarretava na decadente Roma dos séculos I e II d.C.. E o outro ponto importante é a pertença a uma comunidade, uma identidade religiosa onde todos "tinham tudo em comum e dividiam seus bens com alegria de modo que não havia necessitados entre eles".
O segundo ponto é o culto ao Christós, o filho de Deus, completamente puro de todo o pecado, título divino que os cristão tinham dado a Jesus de Nazaré, o Jesus histórico. Afirmar que o Jesus de Nazaré, histórico, é o "Christós" do universo e da sua vida é o primeiro ato da fé cristã, libertando-se do Judaísmo. Mas o importante é que o culto a Cristo é a negação do culto ao Augusto, título igualmente divino e prerrogativa de todos os Césares a partir de Otávio, que instituiu este culto, para todo o império, como suporte ideológico-político de sua dominação, paralelo ao culto dos demais deuses do panteão romano copiado dos gregos, Detenhamo-nos no seu aspecto político-religioso. Afirmar que o sol não era deus significava deixar inúmeros templos vazios e sacerdotes sem função, e mesmo deixar o Exército sem proteção. Afirmar que o imperador não é Deus é subversão política que as leis classificavam como crime de morte. Dizer que o imperador não é Deus é negar a sua efígie na moeda que corre, é negar os valores desta sociedade da qual ele é o símbolo e a sanção sagrada. Tudo isso é ser subversivo e as camadas dominantes rapidamente perceberam isto. Mas as perseguições, aliadas a outras causas internas e externas, aceleraram o processo de transformação do império romano. Do ano 50, quando chegou a Roma, o cristianismo sofreu quatorze grandes perseguições, até que em 313 foi proclamado "religião oficial do Estado" pelo imperador Constantino. Começou então uma nova época para o cristianismo, a união entre poder político e religioso que gerou a cristandade medieval. Era a superação da cultura romana elaborada em sua interioridade e o surgimento de nova síntese cultural: a "cristandade", que se opunha à superada "romanidade".
Nos dois séculos seguintes, IV e V, um outro fenômeno aconteceu em nível da religião (comunidade) e do império. Na comunidade surgiu uma crescente categoria que usurpou cada vez mais os poderes religiosos comunitários e concentrou os ministérios e funções em suas mãos: o clero. Desenvolvem uma ideologia (teologia) de justificação da função (O Cristo cabeça e a figura do Pastor) e aliam-se cada vez mais aos grupos dominantes. Deus Pai, que é amoroso e envia ao Mundo seu Filho para dizer que Ele quer salvar a Humanidade, é transformado em Deus carrasco que vê pecado em tudo e julga a humanidade com mão de ferro. Santo Agostinho é um dos teóricos deste movimento, propondo a divisão do poder em seu livro "Cidade de Deus e Cidade dos Homens", duas figuras básicas para explicar o poder da igreja e do Imperador. O papa, bispo de Roma com a justificação ideológica do primado de Pedro, toma o poder sobre os demais bispos e se configura em um novo "imperador" com palácios, títulos, vestes e bastão, símbolos de poder.

O triunfo histórico do cristianismo

Quando o Império Romano afundava sobre os ataques dos povos bárbaros, que vieram do norte, a Igreja já tinha poder suficiente para empreender a catequese destes povos. Faz do chefe bárbaro um imperador e impõe sobre ele a doutrina cristã, erigindo-se como a nova realidade do mundo: A Idade Média. Nessa época, com o surgimento de povos do norte que começam a invadir o Império Romano, o povo começa a fugir das cidades romanas. Os bárbaros povo de origem germânica, que não falava latim) que invadiam as cidades, saqueavam, violentavam mulheres, levavam jovens para ser soldados; incendiavam as cidades), foram responsáveis por mudanças no Império Romano. O povo com medo dos bárbaros fugia para os campos, chamados feudos (espécie de vilas ou fazendas) onde se ofereciam para trabalhar para os proprietários. Em troca do trabalho, moradia, alimentação e proteção, faziam um acordo de permanecer na terra do senhor enquanto vivessem e seus filhos da mesma forma. Este sistema, que se chamou de Feudalismo e permaneceu até surgir a Idade Moderna.
O cristianismo floresceu nesse meio. As vilas foram crescendo com a chegada cada vez maior de pessoas provindas das cidades. As vilas tinham o castelo do Senhor e o Templo, onde eram celebradas as missas; cumpridas as orações, da manhã, meio dia, anoitecer, sendo marcadas com o toque do sino. O povo devia obrigação de participar das orações e missa, confessar seus pecados, receber a hóstia, obedecer os mandamentos e dar as ofertas.

MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI PARA A JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

 Escrita no pontificado de Bento XVI.

Bento XVI Papa Emérito
“Ide e fazei discípulos entre as nações!” (cf. Mt 28,19)

Queridos jovens, Desejo fazer chegar a todos vós minha saudação cheia de alegria e afeto. Tenho a certeza que muitos de vós regressastes a casa da Jornada Mundial da Juventude em Madri mais “enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé” (cf. Col 2,7). Este ano, inspirados pelo tema: “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fil 4,4) celebramos a alegria de ser cristãos nas várias dioceses. E agora estamos nos preparando para a próxima Jornada Mundial, que será celebrada no Rio de Janeiro, Brasil, em julho de 2013.

 
Desejo, em primeiro lugar, renovar a vós o convite para participardes nesse importante evento. A conhecida estátua do Cristo Redentor, que se eleva sobre àquela bela cidade brasileira, será o símbolo eloquente deste convite: seus braços abertos são o sinal da acolhida que o Senhor reservará a todos quantos vierem até Ele, e o seu coração retrata o imenso amor que Ele tem por cada um e cada uma de vós. Deixai-vos atrair por Ele! Vivei essa experiência de encontro com Cristo, junto com tantos outros jovens que se reunirão no Rio para o próximo encontro mundial! Deixai-vos amar por Ele e sereis as testemunhas de que o mundo precisa.

Convido a vos preparardes para a Jornada Mundial do Rio de Janeiro, meditando desde já sobre o tema do encontro: “Ide e fazei discípulos entre as nações” (cf. Mt 28,19). Trata-se da grande exortação missionária que Cristo deixou para toda a Igreja e que permanece atual ainda hoje, dois mil anos depois. Agora, este mandato deve ressoar fortemente em vosso coração. O ano de preparação para o encontro do Rio coincide com o Ano da Fé, no início do qual o Sínodo dos Bispos dedicou os seus trabalhos à “nova evangelização para a transmissão da fé cristã”. Por isso, me alegro que também vós, queridos jovens, sejais envolvidos neste impulso missionário de toda a Igreja: fazer conhecer Cristo é o dom mais precioso que podeis fazer aos outros.

1. UMA CHAMADA URGENTE

A história mostra-nos muitos jovens que, através do dom generoso de si mesmos, contribuíram grandemente para o Reino de Deus e para o desenvolvimento deste mundo, anunciando o Evangelho. Com grande entusiasmo, levaram a Boa Nova do Amor de Deus manifestado em Cristo, com meios e possibilidades muito inferiores àqueles de que dispomos hoje em dia. Penso, por exemplo, no Beato José de Anchieta, jovem jesuíta espanhol do século 16, que partiu em missão para o Brasil quando tinha menos de 20 anos e se tornou um grande apóstolo do Novo Mundo. Mas penso também em tantos de vós que se dedicam generosamente à missão da Igreja: disto mesmo tive um testemunho surpreendente na Jornada Mundial de Madri, em particular na reunião com os voluntários.

Hoje, não poucos jovens duvidam profundamente que a vida seja um bem, e não veem com clareza o próprio caminho. De um modo geral, diante das dificuldades do mundo contemporâneo, muitos se perguntam: E eu, que posso fazer? A luz da fé ilumina esta escuridão, nos fazendo compreender que toda existência tem um valor inestimável, porque é fruto do amor de Deus. Ele ama mesmo quem se distanciou ou esqueceu d’Ele: tem paciência e espera; mais que isso, deu o seu Filho, morto e ressuscitado, para nos libertar radicalmente do mal. E Cristo enviou os seus discípulos para levar a todos os povos este alegre anúncio de salvação e de vida nova.

A Igreja, para continuar esta missão de evangelização, conta também convosco. Queridos jovens, vós sois os primeiros missionários no meio dos jovens da vossa idade! No final do Concílio Ecumênico Vaticano II, cujo cinquentenário celebramos neste ano, o Servo de Deus Paulo VI entregou aos jovens e às jovens do mundo inteiro uma mensagem que começava com estas palavras: “É a vós, rapazes e moças de todo o mundo, que o Concílio quer dirigir a sua última mensagem, pois sereis vós a recolher o facho das mãos dos vossos antepassados e a viver no mundo no momento das mais gigantescas transformações da sua história, sois vós quem, recolhendo o melhor do exemplo e do ensinamento dos vossos pais e mestres, ides constituir a sociedade de amanhã: salvar-vos-eis ou perecereis com ela”. E concluía com um apelo: “Construí com entusiasmo um mundo melhor que o dos vossos antepassados!” (Mensagem aos jovens, 8 de dezembro de 1965).

Queridos amigos, este convite é extremamente atual. Estamos passando por um período histórico muito particular: o progresso técnico nos deu oportunidades inéditas de interação entre os homens e entre os povos, mas a globalização destas relações só será positiva e fará crescer o mundo em humanidade se estiver fundada não sobre o materialismo, mas sobre o amor, a única realidade capaz de encher o coração de cada um e unir as pessoas. Deus é amor. O homem que esquece Deus fica sem esperança e se torna incapaz de amar seu semelhante. Por isso é urgente testemunhar a presença de Deus para que todos possam experimentá-la: está em jogo a salvação da humanidade, a salvação de cada um de nós. Qualquer pessoa que entenda essa necessidade, não poderá deixar de exclamar com São Paulo: “Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho” (1 Cor 9,16).

2. TORNAI-VOS DISCÍPULOS DE CRISTO

Esta chamada missionária vos é dirigida também por outro motivo: é necessário para o nosso caminho de fé pessoal. O Beato João Paulo II escrevia: “É dando a fé que ela se fortalece” (Encíclica “Redemptoris missio”, 2). Ao anunciar o Evangelho, vós mesmos cresceis em um enraizamento cada vez mais profundo em Cristo, vos tornais cristãos maduros. O compromisso missionário é uma dimensão essencial da fé: não se crê verdadeiramente, se não se evangeliza. E o anúncio do Evangelho não pode ser senão consequência da alegria de ter encontrado Cristo e ter descoberto n’Ele a rocha sobre a qual construir a própria existência. Comprometendo-vos no serviço aos demais e no anúncio do Evangelho, a vossa vida, muitas vezes fragmentada entre tantas atividades diversas, encontrará no Senhor a sua unidade; construir-vos-eis também a vós mesmos; crescereis e amadurecereis em humanidade.

Mas, que significa ser missionário? Significa acima de tudo ser discípulo de Cristo e ouvir sem cessar o convite a segui-Lo, o convite a fixar o olhar n’Ele: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). O discípulo, de fato, é uma pessoa que se põe à escuta da Palavra de Jesus (cf. Lc 10,39), a quem reconhece como o Mestre que nos amou até o dom de sua vida. Trata-se, portanto, de cada um de vós deixar-se plasmar diariamente pela Palavra de Deus: ela vos transformará em amigos do Senhor Jesus, capazes de fazer outros jovens entrar nesta mesma amizade com Ele.

Aconselho-vos a guardar na memória os dons recebidos de Deus, para poder transmiti-los ao vosso redor. Aprendei a reler a vossa história pessoal, tomai consciência também do maravilhoso legado recebido das gerações que vos precederam: tantos cristãos nos transmitiram a fé com coragem, enfrentando obstáculos e incompreensões. Não o esqueçamos jamais! Fazemos parte de uma longa cadeia de homens e mulheres que nos transmitiram a verdade da fé e contam conosco para que outros a recebam. Ser missionário pressupõe o conhecimento deste patrimônio recebido que é a fé da Igreja: é necessário conhecer aquilo em que se crê, para podê-lo anunciar. Como escrevi na introdução do YouCat, o Catecismo para jovens que vos entreguei no Encontro Mundial de Madri, “tendes de conhecer a vossa fé como um especialista em informática domina o sistema operacional de um computador. Tendes de compreendê-la como um bom músico entende uma partitura. Sim, tendes de estar enraizados na fé ainda mais profundamente que a geração dos vossos pais, para enfrentar os desafios e as tentações deste tempo com força e determinação” (Prefácio).

3. IDE!

Jesus enviou os seus discípulos em missão com este mandato: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo” (Mc 16,15-16). Evangelizar significa levar aos outros a Boa Nova da salvação, e esta Boa Nova é uma pessoa: Jesus Cristo. Quando O encontro, quando descubro até que ponto sou amado por Deus e salvo por Ele, nasce em mim não apenas o desejo, mas a necessidade de fazê-lo conhecido pelos demais. No início do Evangelho de João, vemos como André, depois de ter encontrado Jesus, se apressa em conduzir a Ele seu irmão Simão (cf. 1,40-42). A evangelização sempre parte do encontro com o Senhor Jesus: quem se aproximou d’Ele e experimentou o seu amor, quer logo partilhar a beleza desse encontro e a alegria que nasce dessa amizade. Quanto mais conhecemos a Cristo, tanto mais queremos anunciá-lo. Quanto mais falamos com Ele, tanto mais queremos falar d’Ele. Quanto mais somos conquistados por Ele, tanto mais desejamos levar outras pessoas para Ele.

Pelo Batismo, que nos gera para a vida nova, o Espírito Santo vem habitar em nós e inflama a nossa mente e o nosso coração: é Ele que nos guia para conhecer a Deus e entrar em uma amizade sempre mais profunda com Cristo. É o Espírito que nos impulsiona a fazer o bem, servindo os outros com o dom de nós mesmos. Depois, através do sacramento da Confirmação, somos fortalecidos pelos seus dons, para testemunhar de modo sempre mais maduro o Evangelho. Assim, o Espírito de amor é a alma da missão: Ele nos impele a sair de nós mesmos para “ir” e evangelizar. Queridos jovens, deixai-vos conduzir pela força do amor de Deus, deixai que este amor vença a tendência de fechar-se no próprio mundo, nos próprios problemas, nos próprios hábitos; tende a coragem de “sair” de vós mesmos para “ir” ao encontro dos outros e guiá-los ao encontro de Deus.

4. ALCANÇAI TODOS OS POVOS

Cristo ressuscitado enviou os seus discípulos para dar testemunho de sua presença salvífica a todos os povos, porque Deus, no seu amor superabundante, quer que todos sejam salvos e ninguém se perca. Com o sacrifício de amor na Cruz, Jesus abriu o caminho para que todo homem e toda mulher possa conhecer a Deus e entrar em comunhão de amor com Ele. E constituiu uma comunidade de discípulos para levar o anúncio salvífico do Evangelho até os confins da terra, a fim de alcançar os homens e as mulheres de todos os lugares e de todos os tempos. Façamos nosso esse desejo de Deus!

Queridos amigos, estendei o olhar e vede ao vosso redor: tantos jovens perderam o sentido da sua existência. Ide! Cristo precisa também de vós. Deixai-vos envolver pelo seu amor, sede instrumentos desse amor imenso, para que alcance a todos, especialmente aos “afastados”. Alguns encontram-se geograficamente distantes, enquanto outros estão longe porque a sua cultura não dá espaço para Deus; alguns ainda não acolheram o Evangelho pessoalmente, enquanto outros, apesar de o terem recebido, vivem como se Deus não existisse. A todos abramos a porta do nosso coração; procuremos entrar em diálogo com simplicidade e respeito: este diálogo, se vivido com uma amizade verdadeira, dará seus frutos. Os “povos”, aos quais somos enviados, não são apenas os outros países, mas também os diversos âmbitos de vida: as famílias, os bairros, os ambientes de estudo ou de trabalho, os grupos de amigos e os locais de lazer. O jubiloso anúncio do Evangelho se destina a todos os âmbitos da nossa vida, sem exceção.

Gostaria de destacar dois campos, nos quais deve fazer-se ainda mais solícito o vosso empenho missionário. O primeiro é o das comunicações sociais, em particular o mundo da internet. Como tive já oportunidade de dizer-vos, queridos jovens, “senti-vos comprometidos a introduzir na cultura deste novo ambiente comunicador e informativo os valores sobre os quais assenta a vossa vida! [...] A vós, jovens, que vos encontrais quase espontaneamente em sintonia com estes novos meios de comunicação, compete de modo particular a tarefa da evangelização deste “continente digital” (Mensagem para o XLIII Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24 de maio de 2009). Aprendei, portanto, a usar com sabedoria este meio, levando em conta também os perigos que ele traz consigo, particularmente o risco da dependência, de confundir o mundo real com o virtual, de substituir o encontro e o diálogo direto com as pessoas por contatos na rede.

O segundo campo é o da mobilidade. Hoje são sempre mais numerosos os jovens que viajam, seja por motivos de estudo ou de trabalho, seja por diversão. Mas penso também em todos os movimentos migratórios, que levam milhões de pessoas, frequentemente jovens, a se transferir e mudar de região ou país, por razões econômicas ou sociais. Também estes fenômenos podem se tornar ocasiões providenciais para a difusão do Evangelho. Queridos jovens, não tenhais medo de testemunhar a vossa fé também nesses contextos: para aqueles com quem vos deparareis, é um dom precioso a comunicação da alegria do encontro com Cristo.

5. FAZEI DISCÍPULOS!

Penso que já várias vezes experimentastes a dificuldade de envolver os jovens da vossa idade na experiência da fé. Frequentemente tereis constatado que em muitos deles, especialmente em certas fases do caminho da vida, existe o desejo de conhecer a Cristo e viver os valores do Evangelho, mas tal desejo é acompanhado pela sensação de ser inadequados e incapazes. Que fazer? Em primeiro lugar, a vossa solicitude e a simplicidade do vosso testemunho serão um canal através do qual Deus poderá tocar seu coração. O anúncio de Cristo não passa somente através das palavras, mas deve envolver toda a vida e traduzir-se em gestos de amor. A ação de evangelizar nasce do amor que Cristo infundiu em nós; por isso, o nosso amor deve conformar-se sempre mais ao d’Ele. Como o Bom Samaritano, devemos manter-nos solidários com quem encontramos, sabendo escutar, compreender e ajudar, para conduzir quem procura a verdade e o sentido da vida, à casa de Deus que é a Igreja, onde há esperança e salvação (cf. Lc 10,29-37). Queridos amigos, nunca esqueçais que o primeiro ato de amor que podeis fazer ao próximo é partilhar a fonte da nossa esperança: quem não dá Deus, dá muito pouco. Aos seus apóstolos, Jesus ordena: “Fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei” (Mt 28,19-20). Os meios que temos para “fazer discípulos” são principalmente o Batismo e a catequese. Isto significa que devemos conduzir as pessoas que estamos evangelizando ao encontro com Cristo vivo, particularmente na sua Palavra e nos Sacramentos: assim poderão crer n’Ele, conhecerão a Deus e viverão da sua graça. Gostaria que cada um de vós se perguntasse: Alguma vez tive a coragem de propor o Batismo a jovens que ainda não o receberam? Convidei alguém a seguir um caminho de descoberta da fé cristã? Queridos amigos, não tenhais medo de propor aos jovens da vossa idade o encontro com Cristo. Invocai o Espírito Santo: Ele vos guiará para entrardes sempre mais no conhecimento e no amor de Cristo, e vos tornará criativos na transmissão do Evangelho.

6. FIRMES NA FÉ

Diante das dificuldades na missão de evangelizar, às vezes sereis tentados a dizer como o profeta Jeremias: “Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, sou muito novo”. Mas, também a vós, Deus responde: “Não digas que és muito novo; a todos a quem eu te enviar, irás” (Jr 1,6-7). Quando vos sentirdes inadequados, incapazes e frágeis para anunciar e testemunhar a fé, não tenhais medo. A evangelização não é uma iniciativa nossa nem depende primariamente dos nossos talentos, mas é uma resposta confiante e obediente à chamada de Deus, e portanto não se baseia sobre a nossa força, mas na d’Ele. Isso mesmo experimentou o apóstolo Paulo: “Trazemos esse tesouro em vasos de barro, para que todos reconheçam que este poder extraordinário vem de Deus e não de nós” (2 Cor 4,7).

Por isso convido-vos a enraizar-vos na oração e nos sacramentos. A evangelização autêntica nasce sempre da oração e é sustentada por esta: para poder falar de Deus, devemos primeiro falar com Deus. E, na oração, confiamos ao Senhor as pessoas às quais somos enviados, suplicando-Lhe que toque o seu coração; pedimos ao Espírito Santo que nos torne seus instrumentos para a salvação dessas pessoas; pedimos a Cristo que coloque as palavras nos nossos lábios e faça de nós sinais do seu amor. E, de modo mais geral, rezamos pela missão de toda a Igreja, de acordo com a ordem explícita de Jesus: “Pedi, pois, ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!” (Mt 9,38). Sabei encontrar na Eucaristia a fonte da vossa vida de fé e do vosso testemunho cristão, participando com fidelidade na missa ao domingo e sempre que possível também durante a semana. Recorrei frequentemente ao sacramento da Reconciliação: é um encontro precioso com a misericórdia de Deus que nos acolhe, perdoa e renova os nossos corações na caridade. E, se ainda não o recebestes, não hesiteis em receber o sacramento da Confirmação ou Crisma, preparando-vos com cuidado e solicitude. Junto com a Eucaristia, esse é o sacramento da missão, porque nos dá a força e o amor do Espírito Santo para professar sem medo a fé. Encorajo-vos ainda à prática da adoração eucarística: permanecer à escuta e em diálogo com Jesus presente no Santíssimo Sacramento, torna-se ponto de partida para um renovado impulso missionário.

Se seguirdes este caminho, o próprio Cristo vos dará a capacidade de ser plenamente fiéis à sua Palavra e de testemunhá-Lo com lealdade e coragem. Algumas vezes sereis chamados a dar provas de perseverança, particularmente quando a Palavra de Deus suscitar reservas ou oposições. Em certas regiões do mundo, alguns de vós sofrem por não poder testemunhar publicamente a fé em Cristo, por falta de liberdade religiosa. E há quem já tenha pagado com a vida o preço da própria pertença à Igreja. Encorajo-vos a permanecer firmes na fé, certos de que Cristo está ao vosso lado em todas as provas. Ele vos repete: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,11-12).

7. COM TODA A IGREJA

Queridos jovens, para permanecer firmes na confissão da fé cristã nos vários lugares onde sois enviados, precisais da Igreja. Ninguém pode ser testemunha do Evangelho sozinho. Jesus enviou em missão os seus discípulos juntos: o mandato “fazei discípulos” é formulado no plural. Assim, é sempre como membros da comunidade cristã que prestamos o nosso testemunho, e a nossa missão torna-se fecunda pela comunhão que vivemos na Igreja: seremos reconhecidos como discípulos de Cristo pela unidade e o amor que tivermos uns com os outros (cf. Jo 13,35). Agradeço ao Senhor pela preciosa obra de evangelização que realizam as nossas comunidades cristãs, as nossas paróquias, os nossos movimentos eclesiais. Os frutos desta evangelização pertencem a toda a Igreja: “um é o que semeia e outro o que colhe”, dizia Jesus (Jo 4,37).

A propósito, não posso deixar de dar graças pelo grande dom dos missionários, que dedicam toda a sua vida ao anúncio do Evangelho até os confins da terra. Do mesmo modo bendigo o Senhor pelos sacerdotes e os consagrados, que ofertam inteiramente as suas vidas para que Jesus Cristo seja anunciado e amado. Desejo aqui encorajar os jovens chamados por Deus a alguma dessas vocações, para que se comprometam com entusiasmo: “Há mais alegria em dar do que em receber!” (At 20,35). Àqueles que deixam tudo para segui-Lo, Jesus prometeu o cêntuplo e a vida eterna (cf. Mt 19,29).

Dou graças também por todos os fiéis leigos que se empenham por viver o seu dia a dia como missão, nos diversos lugares onde se encontram, tanto em família como no trabalho, para que Cristo seja amado e cresça o Reino de Deus. Penso particularmente em quantos atuam no campo da educação, da saúde, do mundo empresarial, da política e da economia, e em tantos outros âmbitos do apostolado dos leigos. Cristo precisa do vosso empenho e do vosso testemunho. Que nada – nem as dificuldades, nem as incompreensões – vos faça renunciar a levar o Evangelho de Cristo aos lugares onde vos encontrais: cada um de vós é precioso no grande mosaico da evangelização!

8. “AQUI ESTOU, SENHOR!”

Em suma, queridos jovens, queria vos convidar a escutar no íntimo de vós mesmos a chamada de Jesus para anunciar o seu Evangelho. Como mostra a grande estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, o seu coração está aberto para amar a todos sem distinção, e seus braços estendidos para alcançar a cada um. Sede vós o coração e os braços de Jesus. Ide testemunhar o seu amor, sede os novos missionários animados pelo seu amor e acolhimento. Segui o exemplo dos grandes missionários da Igreja, como São Francisco Xavier e muitos outros.

No final da Jornada Mundial da Juventude em Madri, dei a bênção a alguns jovens de diferentes continentes que partiam em missão. Representavam a multidão de jovens que, fazendo eco às palavras do profeta Isaías, diziam ao Senhor: “Aqui estou! Envia-me” (Is 6,8). A Igreja tem confiança em vós e vos está profundamente grata pela alegria e o dinamismo que trazeis: usai os vossos talentos generosamente ao serviço do anúncio do Evangelho. Sabemos que o Espírito Santo se dá a quantos, com humildade de coração, se tornam disponíveis para tal anúncio. E não tenhais medo! Jesus, Salvador do mundo, está conosco todos os dias, até o fim dos tempos (cf. Mt 28,20).

Dirigido aos jovens de toda a Terra, este apelo assume uma importância particular para vós, queridos jovens da América Latina. De fato, na V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em Aparecida, no ano de 2007, os bispos lançaram uma “missão continental”. E os jovens, que constituem a maioria da população naquele continente, representam uma força importante e preciosa para a Igreja e para a sociedade. Por isso sede vós os primeiros missionários. Agora que a Jornada Mundial da Juventude retorna à América Latina, exorto todos os jovens do continente: transmiti aos vossos coetâneos do mundo inteiro o entusiasmo da vossa fé.

A Virgem Maria, Estrela da Nova Evangelização, também invocada sob os títulos de Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora de Guadalupe, acompanhe cada um de vós em vossa missão de testemunhas do amor de Deus. A todos, com especial carinho, concedo a minha bênção apostólica.

 

Vaticano, 18 de outubro de 2012

Benedictus pp XVI