quinta-feira, 20 de junho de 2013

CHUTANDO O BALDE


Sílvia Schmidt

Eu venho por meio desta comunicar oficialmente
minha exoneração do cargo de adulto.

Eu declaro que quero aceitar as responsabilidades
de alguém de 8 anos novamente.

Eu quero ir ao McDonald's e achar que estou num
restaurante 5 estrelas.

Eu quero mergulhar em sanduíches, lambuzar-me todo
e soprar no copo de refrigerante com o canudinho.

Eu quero pensar que biscoitos são melhores do que moedas
porque eu posso come-los.

Eu quero me esticar debaixo de uma grande árvore
e esgotar limonadas com amigos num dia de sol daqueles!

Eu quero voltar ao tempo em que a Vida era mais simples.

Voltar ao tempo dos lápis de cor, das tabuadas,
dos contos de crianças, das coisas que não me estressavam,
que pouco me incomodavam.

Tempo em que tudo que eu sabia era ser feliz,
sem todas aquelas coisas que dão preocupações e chateiam!

Eu quero pensar que o mundo é justo,
que todas as pessoas são honestas e boas!

Eu quero acreditar que tudo é possível !

Eu quero largar as complexidades da vida
e ficar tremendamente feliz com pequenas coisas.

Eu quero ser simples outra vez !

Eu não quero que meus dias sejam cheios de
computadores travados, montanhas de papeladas
e notícias deprimentes.

Não quero pensar em como sobreviver
até o dia do pagamento nem calcular o quanto resta no banco.

Quero esquecer as pílulas do analista,
as fofocas, as doenças e o medo de perder os meus queridos.

Eu quero acreditar no poder de sorrisos,
dar muitos abraços, acreditar em justiça, em amáveis palavras,
em verdades, em paz, em sonhos !

Eu quero acreditar no amor, na imaginação,
na gentileza humana e quero desenhar anjos na areia !

Portanto ...

Aqui estão meu talão de cheques, minha carteira,
as chaves do carro, meus cartões de crédito
e meus 901KB de arquivos de preocupações !

Eu estou desertando oficialmente da minha condição de adulto !

E se você quiser discutir isso mais tarde,
corre, vê se me acha e vem me pegar !

Eu já te peguei primeiro!

 

INDIGNAÇÃO

O Estado, que se sustenta com elevados impostos, pagos pelo povo (sem o devido retorno), deve promover (nos três níveis de poder) o seu bem-estar, não violentar-lhe a dignidade, alijando-o ou oprimindo-o, como, em regra, ocorre, pois a dignidade da pessoa humana - um dos fundamentos da nossa República - é o mais importante princípio constitucional (CF, art. 1º, III).  

Dentre tantas situações idênticas, a dignidade do povo é lesionada, quando o Estado se corrompe, ao invés de combater, efetivamente, a impunidade e zerar a morosidade da Justiça, que estimulam a violência, já intolerável: “O poder corrompe. O poder corrompido corrompe absolutamente”.  

A dignidade do povo é, ainda, espancada, quando o Estado gasta R$ 33 bilhões com obras da Copa|2014, em detrimento da sua Educação, Saúde e Segurança.

A dignidade do povo continua violentada, quando se criam 39 Ministérios, com mais de 50% de cargos comissionados (moedas de troca!), quando cria 31 Partidos Políticos (moedas de troca!) e institui Emendas Parlamentares individuais e de bancadas (moedas de troca!).

A ineficiência do Poder Público (nos três níveis), resultante de desonestidade, incompetência e omissão de gestores públicos, que se sucedem nas chefias, são as causas básicas dos atos de indignação popular, que se alastra e se repete pelo País.

Logo, urge que, sobretudo as autoridades atentem, não só para os diversos conteúdos das manifestações, mas, também, para as novas formas nelas adotadas, para serem ouvidos, dentre as quais se divisam as seguintes: 1ª) - ausência dos intermediários tradicionais (Partidos Políticos, UNE, CUT, etc.); 2ª) – uso de comunicação direta (redes sociais); 3ª) – pautas amplas; 4ª) - ânimo pacifista; 5ª) – relativa tolerância da Polícia.

As citadas pautas denunciam os problemas do País: 1ª) – quem deve executar, não executa a contento; 2ª) – quem deve fiscalizar, omite-se; 3ª) – quem deve investigar, apura minimamente; 4ª) – quem deve denunciar, não o faz em tempo hábil; 5ª) – que deve julgar, não o faz tempestivamente; etc. etc. Daí emergirem ineficiência, incompetência, morosidade, desonestidade, enfim, injustiças em geral, cujas denúncias são um contundente recado, que deve ser bem analisado pelos agentes públicos.

Concluindo, continuamos a pregar que não basta sermos honestos e dizermos que somos honestos; é preciso, também, combatermos a desonestidade, sob pena de sermos coniventes com os ilícitos que ocorrem em torno de nós!

Salvador Bonomo.

Ex-Deputado Estadual e Promotor de Justiça aposentado.

Vitória, ES, 20.06.2013.

PACIFICAMENTE, EM DEFESA DOS NOSSOS DIREITOS




O espetáculo de cidadania protagonizado ontem, por um povo civilizado nas ruas, atesta a verdade: não verás nenhum país como este! Povo que entendeu que a melhor arma é a Paz e saberá retirar dela, outros recursos e as outras armas das quais necessita para vencer a batalha iniciada.

Viva nossa pátria, viva o Brasil e que os brasileiros vivam com dignidade, tendo todos os seus direitos preservados.

Do que disseram os manifestantes, dos seus depoimentos em frases curtas, colhe-se a certeza da consciência de que estão possuídos e da responsabilidade pelo que fazem: é preciso entender que a melhor arma é a paz; não é com vandalismo que conquistamos nossos direitos e outros.

Outros no mesmo tom, mas ainda outros, deveras controversos, carentes de melhor instrução. Tipo: vamos mostrar que quem manda é o povo.  A primeira vista, absolutamente certo, quem manda é o povo. Esse poder de mando, contudo, tem regras a ser seguidas, o povo não manda pura e simplesmente ou sem o devido respeito à ordem democrática.

Todo povo-nação há se pautar mediante a palavra que dita a Constituição do seu país e toda Constituição de regimes democráticos, em outros termos ou explicitamente, como na nossa, prevê: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Por meio de representantes eleitos, por meio do voto, aquele que não tem preço, mas tem consequências, quando é vendido, quando é um direito mal exercido, que não liberta e mantém cabeças eternamente curvadas diante de poderosos eternos. 

E quando a Constituição também prevê que o poder do povo é exercido diretamente, acrescenta, nos termos desta Constituição, ou como se lê no capítulo dos Direitos Fundamentais: Art 5º IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, ..., sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente. Ou seja, na forma fantástica que aconteceu ontem, uma falange de brasileiros, em nome da dignidade, em paz, até vestidos de branco. Os vândalos ai não se incluem.

É preciso ler e assimilar a mensagem que vem das ruas, os que exercem poderes delegados não contrariem seus outorgantes. Não à PEC 37 que inibe o agir do Ministério Público, que se cumpram as penas impostas aos condenados pelo STF, mais atenção para as causas que afligem de morte nossa gente: saúde, segurança, educação.

Marlusse
11:29 18/06/13