terça-feira, 28 de maio de 2013

A CRÕNICA E O ARTIGO DE FABIANI

Fabiani Rodrigues Taylor Costa é formada em Letras, Especialização em Literatura
Brasileira e Gestão Escolar. É Diretora da EEEFM Profª Filomena Quitiba
em Piúma ES, venceu o concurso de crônicas da Academia Feminina
Espirito-santense de Letras
e o de artigos da Academia Mateense de Letras - AMALETRA

 CARTAS
Que bom que hoje conseguimos resolver muitas coisas apenas com um clique. As informações são armazenadas em uma pequena caixa que chamamos de CPU, fios tomam conta cada vez mais de paisagens antes iluminadas à luz de velas ou de lampiões.

Fabiani na premiação da AFESL
Do outro lado do computador existe uma pessoa a qual muitas vezes nunca vi ou nunca verei na vida. Mas, comunico-me com ela, somos “amigas“ em uma corrente que acreditamos ser eterna.

Não sinto o seu cheiro, não sei se a foto postada é ela mesma, não sei se ri ou se chora, se edita a verdade ou exclui as mentiras, se escreve somente aquilo que acredita que vai me agradar, mas, não importa, ela não vê meus sentimentos e emoções.

É quando me pego em lembranças de como era escrever uma carta. Aqueles cadernos antigos eram despertados do velho baú para servirem de rascunho.

Os sentimentos de amor, paixão, saudade eram bordados em lindas letras redondas, visualizadas em infinitas páginas que justificavam até a troca da cor da tinta da caneta. E o cheiro? Antes de fechar o envelope, este, era posto perto do coração e, através de um longo suspiro, mais uma vez aqueles belos papéis de carta eram relidos e o toque final era uma gota do melhor perfume para que, quem recebesse, sentisse a presença do ente amado.

Porém, se o assunto fosse uma briga, o papel entrava no envelope de tal forma que o amarrotava completamente. A letra ia num garrancho, transparecendo a raiva daquele instante.

Chique era usar o P.S. (post scriptum). Na época, nem sabia o significado, mas tinha conhecimento de que se usava no final da carta. Usar o P.S. era deixar exalar certa inteligência, era o bater do martelo para a conquista final.

O bom mesmo era esperar pela resposta. Em quantas mãos a carta iria passar ainda para chegar ao seu destino? Grandes expectativas iam para bem longe, num retângulo cheio de esperanças.

E vinha o carteiro, jogava a correspondência por debaixo da porta. Não tinha emoção abri-la apressadamente. O ritual era olhar primeiramente o remetente, como se não soubéssemos quem era. Depois, aos poucos, rasgávamos um dos lados e retirávamos seu conteúdo com o coração aos pulos.

O cheiro que de lá aspirava, era concretizar a pessoa ali perto de você. Ler, aquelas traçadas linhas, era ouvir, pertinho do ouvido, o sussurro de quem as escreveu.

Nunca mais recebi uma carta. Minha caixa de e-mail está cheia, deleto quase tudo, não é importante.

Saudade mesmo é daquelas respostas que jamais chegarão.


VÁRIOS TONS DE LIBERDADE

Já faz tempo que os afazeres domésticos e a submissão da mulher para com o marido ficaram para trás.
Fabiani

Todas as manifestações, transcorridas pela mulher na construção de sua história, mostram cada passo percorrido, cada obstáculo vencido para um apogeu de liberdade e plena autonomia em muitas decisões.

Simone de Beauvoir afirma em seu livro O Segundo Sexo (1949) que “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino.”

E foi lá da obscuridade do analfabetismo, pois as letras eram-lhe negadas, que a mulher, aos poucos, surge das cinzas, feito Fênix, e descobre o seu poder com as palavras e as transpõe através de protestos, abrindo caminhos definitivos na sociedade.

Sua única visão diária eram os limites que demarcavam sua casa. Com a Revolução Industrial, era preciso mão de obra para tantas fábricas emergentes. Saiu para trabalhar. O resultado final, modelado pelas mãos femininas, agradou tanto que hoje, além de operária, comanda fábricas, ganhando altos salários.

Todas as suas perspectivas estavam em volta de um casamento, na maioria das vezes, arranjado. Vivia numa eterna submissão, pois até os bens herdados passavam para o nome do marido, deixando-a presa a um casamento sem afeto, acorrentada à situação financeira masculina.

Mas, um dia, o divórcio não foi mais escândalo social. Penetrando no mundo das leis, decisões enérgicas e significativas foram tomadas e os ferrolhos da escravidão patriarcal foram serrados. Com os punhos livres, as mulheres arregaçaram as mangas e foram trabalhar para o próprio sustento e também de seus filhos.

Agora, é de sua vontade o casamento, podendo até mesmo negar o sobrenome do marido, bem como, ter pleno poder sobre seu corpo em orgasmos e na decisão de ter filhos.

Infinitas possibilidades foram absorvidas pelo sexo que achavam que fosse frágil. Não só a voz foi ampliada em megafones espalhados sociedade afora. O direito de decidir os governantes do seu país se concretizou no poder do voto e a cada ano caminha com orgulho, cabeça erguida, vitoriosa em muitas batalhas.
É certo que em todo o caminho trilhado, mulheres sofreram, humilhadas, engolindo o choro amargo do descaso masculino, quando não, perdiam a própria vida na luta por futuras causas.

Assim se fez, entre a simbologia do queima sutiãs, passeatas, cartazes em punho, foi traçado um árduo caminho. Muito ainda se tem para vencer, mas o grande percurso já completado mostra a mulher, com seus vários tons de liberdade, detentora do poder de tomar suas próprias decisões.