quinta-feira, 4 de abril de 2013

UMA CENA MUITO TRISTE

No aguardo de uma conexão, pus-me a passear pelo aeroporto de Belo Horizonte.

À frente de uma das portas de embarque, uma menininha, que teria no máximo quatro anos, sem amparo de ninguém, se desmanchava em lágrimas. No primeiro momento, poderia parecer apenas uma criança contrariada em algum desejo, que reagia a seu modo.

Depois de contemplá-la por alguns instantes, impelida pela compaixão, aproximei-me, com a clássica pergunta: está chorando... Por que você está chorando? Nenhuma resposta, mas as lágrimas que jorravam em borbotões, me pareceu que se multiplicaram.  Minhas perguntas, acompanhadas de carícias na sua cabecinha, restaram sem nenhum acolhimento. Minha ternura cresceu ainda mais, muito, muito mais.

Foi quando um jovem senhor se aproximou. Demonstrou-me pela expressão esboçada que tinha a ver com a pequena. A suposição se confirmou, quando disse ser seu pai.  E me explicou: Ela está assim, por que deixou a mãe dela.  E foi acrescentando: a mãe me pediu para vir buscá-la porque não aguenta mais com ela.

- Como? a mãe não aguenta mais com ela? É tão pequena... E reflito, seria capaz de fugir ao controle de uma mãe um serzinho deste tamanho? ou o não aguenta significa falta de recursos para sustentá-la? Amor de mãe sempre aguenta. Meu pensamento voava.

Ele prosseguiu: moro em Rondônia. Tinha ido buscar a criança no Pará, onde morou, sua (nova) esposa iria tomar conta dela.

Enquanto isto, a pobre criança continuava chorando. Senti que a voz embargou-me na garganta, meu peito doeu. Minha vontade foi de pegá-la, envolvê-la nos meus braços, arrebatá-la, levá-la comigo, tudo fazer para que nunca mais tivesse porque chorar. Mas como, ela tem um pai ai. Que ideia a minha!

A esta altura, quem chorava por dentro era eu. O alto falante anunciou o voo no qual embarcariam. Mesmo chorando, a menininha aceitou a mão que o pai lhe estendeu e o acompanhou sem protesto.

Meu olhar acompanhou-os até onde foi possível, até que foram ocultados “por aqueles túneis”, o que não se ocultará, porque jamais se apagará da minha lembrança é a imagem de uma menina tão pequena cuja mãe renunciou a tê-la dizendo “não aguentar mais com ela”. Aguentar pode ser não ter recursos para sustentar, pode ser porque era muito rebelde, será? Mas o que realmente foi, é certo que jamais saberei.