domingo, 6 de janeiro de 2013

NA FEIRA DE JARDIM DA PENHA

Manhã de sábado, cumpro propósito de ir à feira de Jardim da Penha. Não propriamente para fazer compras, mas para estar no meio de uma pequena multidão, sentir contatos, ouvir vozes misturadas, experimentar o sabor de ser gente.

O sol está quente e o calor é sufocante. Algumas pessoas estão ali, pelas mãos vazias denotam que como eu, não foram para comprar nada, aliás, Verinha, minha irmã que se foi há quase quatro anos, (que saudade...) um dia me disse que um nosso conhecido vai à feira todo sábado para comer pastel e beber caldo de cana. Não deixa de ser um bom programa ao qual eu também acabo por aderir, notando que o caldo não está tão doce, como em frequentadíssimas lanchonetes ao longo da BR 101, que estão usando cana para fabricação de álcool, desagradavelmente doce demais, ao menos para gosto como o meu.

Começo meu passeio, as bancas exibem quase a mesma coisa, banana, laranja, batata, maçã, uva e outras frutas, verduras, legumes, peixe, galinha. Muitos conversam descontraídos nesse ponto de encontro semanal. Pelo tom de voz falam de amenidades, ou indiferentes a que sejam ouvidos. Não são segredos. Poucas crianças em carrinhos protegidas o mais possível dos raios do sol.

 Vendem-se toalhas de prato bordadas, pintadas, bancos, pequenas mesas e colher de pau, flores já preparadas em belos arranjos, da simples margarida à orquídea. Todos os gostos podem ser satisfeitos e vi várias pessoas que caminhavam levando flores nos braços, animei-me a fazer o mesmo, mas deixei para o final.

Alguns adolescentes com carrinhos que só Deus sabe o que carregaram antes, digo-o por achá-los sujos, acompanham pessoas que não querem carregar peso enquanto compram. Faz sentido.

A feira tem de tudo. As chamadas madames, no entanto, não são vistas por lá. Feira popular é sinônimo de simplicidade, traje despojado, chinelo de borracha. Tem que saber a povão, ou à feira não se vai.

Olho para lá e para cá, nenhum rosto conhecido. Prossigo, finalmente vejo uma amiga de infância e me dirijo a ela, depois da saudação inicial, um papo inevitável, quando a família é o tema.  De repente, somos abordadas por uma pedinte, cuja expressão revelava juventude, asseada, vestida direitinho. Pede esmola, claro que não dei e observei que tem condições de trabalhar. Foi o bastante para que me dirigisse tudo de chingamento que sabe e se vai, não antes sem voltar, para dizer mais imoralidades das quais se lembrou.

Curioso, muitas faces, em nenhuma delas vi sorrisos. As pessoas estão sérias demais. Por que será? Caminham firmes sérias; desviam-se de alguém ou de algum pedinte que sentou no chão, sérias. Sérias, pedem ao vendedor o que desejam, pagam e se vão. Mas também não é que mostrem tristeza, pelo que penso: não é que não tenham problemas ou não sintam saudades... problemas, pranto e dor é privilégio de todos... 

Um sorriso ilumina o rosto como reflexo da alma em paz, lamentavelmente, não temos a cultura de sorrir, além de estarmos carentes de paz.

Fui até o fim da feira, voltei até ao começo dela. Comprei alguma coisa ah... comprei flores! Entro no carro que está – como se diz – fervendo e tomo o caminho de casa. Estou acompanhada daquele colorido que reveste as bancas, da mulher que insulta quem não lhe dá esmola, intrigada e querendo descobrir, entre mais, como fazer as pessoas sorrirem.