segunda-feira, 7 de outubro de 2013

UM CERTO ACONCHEGO



Gaturamo, ternura pura.
Diversas pessoas já me disseram que não querem saber do facebook, não querem que sua privacidade seja invadida, o que considero um engano. Só aparece o que se escreve e tenho acrescentado: o que mais quero é que o quanto mais gente possível seja leitora das minhas mensagens, do que escrevo, das minhas propostas de debate, dos meus protestos, da minha militância (de poltrona) nem tão a frente da linha de combate (admita-se).

Claro, prepare-se para despender tempo, mas funciona também como disciplinador de vontade, isto é: fazer com que cada um seja senhor de si e não se deixe absorver às raias do vício. Basta se impor.

Num tempo em que as relações interpessoais andam tão prejudicadas, sequer damos bom dia ao vizinho muitas vezes, não nos vemos, os criadores dessa rede perceberam o óbvio ou que a adesão se daria pela facilidade de fazer gente se comunicar com gente, mandar recados, promover encontros, reatar laços, fazer anúncios, cumprimentar pelo aniversário, enfim, tudo a que se tem prestado o facebook. E com isto, claro, conseguiram o que principalmente, mais almejavam.

Encontrar-se, comunicar-se, é tudo de bom. Grande aspiração e até necessidade, as vezes inconsciente, do ser humano é encontrar seu igual, é fazer unidade com ele. É muito bom saber do outro, como vive, com quem está, por onde anda, quando voltará.

Quem contesta, se foi o próprio Deus a dizer: não é bom para o homem estar só. Referiu-se a Adão, presenteando-lhe Eva, mas vale para qualquer pessoa, seja qual for o tempo, circunstância ou fase de sua vida.

Não raro, encontramos pessoas que se dizem realizadas nos próprios exílios, ou em estarem sós. Talvez não se apercebam dos males que se fazem, a solidão pode não ser boa conselheira, além do que, conselhos próprios, conceitos pessoais se solidificam, podem vir a se tornar crenças e com essas não é sempre fácil lidar. Crenças curam, mas também matam, leia-se Robert Dilts, por exemplo.  

Para Flaubert “Por mais que a alma lide, não rompe a sua solidão e caminha com ela, como formiga, num deserto perdido”.

E por ai a fora...

O telefone cumpriu seu papel por um tempo, mas, quando mais gente pode tê-lo, as faturas se tornaram inibidoras do deleite.

Deste modo, o que aplaudo não é o facebook em si, aplaudo a possibilidade que oferece na promoção de relações interpessoais e por colaborar para que tantas barreiras sejam destruídas tanto quanto,  muitas e muitas construções se ergam.

É deveras interessante. E na verdade, o de que todos nos sentimos deveras carentes não é senão de um pouco mais de aconchego. E ali tudo acontece.

 

Marlusse Pestana Daher

Vitória, 06 de outubro de 2013 18:13