sexta-feira, 12 de julho de 2013

EXPERIÊNCIA NO PROJETO RONDON

A rua se desenhava subindo o morro, algumas casinhas foram construídas à sua margem, humildes, pequenas, mas bem juntas uma das outras como para se sustentarem e sentindo-se unidas terem coragem de enfrentar os olhares de quem passando as fixasse.

O casebre de João Lúcio e Auristela era ainda menor, ainda mais pobre e fora erguido na baixada, a bem uns 15 m do alinhamento. E descendo é que fui encontrá-los.

João Lúcio, solícito, abriu as portas... do coração é claro, como quem recebe gente ilustre porque a porta da casa está sempre aberta, e até três bacorinhos me pareceram muito familiares ali, naqueles 15 metros quadrados de imensa pobreza. A um canto, o fogão onde o fogo não ardia e panelas nada cozinhavam.

Auristela, de cócoras, numa água que nem antes me pareceu pudesse          ter sido limpa, banhava Ciciane. Olhou-me ao entrar, sem hostilidade, mas também sem alegria. Uma face que realmente, se cuidada, pareceria muito bonita. Enxugou Ciciane, deixando-a sobre a enxerga a contemplar os porcos que comiam casca de manga no chão.

Eu me pus a pensar se haveria revolta naquela vida, entusiasmo era evidente que  não, ou o que havia. Vestiu uma calcinha em Eliane e passou com a mesma tristeza nos olhos e depois nas palavras a falar comigo que a esta altura entusiasmava João Lúcio a obter sua carteira profissional e lhe dizia: quem o vir com uma carteira dessa na mão, vai ver que você é um trabalhador, protegido pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social. Eu acreditava que era mesmo assim.

- É, mas eu vivo de carregar água, não tenho “registro”. No tempo das eleições, lutei para conseguir, mas não consegui”. E noutro tom, resignado e sincero: “Eu acho que não tenho sorte”!

Senti uma pena imensa, mas uma luz brilhou em mim e lhe respondi: não, João, talvez você não tenha sido esperto, isto é, não chegou primeiro na fila. Nessas circunstâncias, a gente tem que chegar uma hora antes e não deixar que ninguém passe na frente da gente.

Ele sorriu convencido: “sabe que é isso mesmo”?

Eliane e Ciciane também não estão registradas e João não tem dinheiro para isso, neste dia, nem para comer havia alguma coisa.

Quase me arrependi de falar que o fotógrafo até fizera uma diferença de Cr$ 1,50 no preço de seis fotografias para que todos tirem sua carteira profissional e que S. Nenê cobrará só Cr$ 8,00 por registro, para que ele pudesse registrar as filhinhas por quem notei ter muito carinho.

No final, meus braços caíram sem alento, só a voz se conservou.

-É, João, infelizmente, eu não tenho mais a lhe dar. Que Deus abençoe você, sua família, sua casa. Até logo!

Atrás de mim, ainda ouvi o clássico sertanejo: seja feliz...

Por dentro eu dizia: abençoa mesmo, dá um jeito, meu Deus, João não pode ser decepcionado, se alcançar a profundidade do meu voto.

Como é maravilhosa a ação do nosso Projeto Rondon, estamos descobrindo problemas, poderemos solucioná-los?