segunda-feira, 29 de julho de 2013

IDE, SEM MEDO, SERVIR

Homilia do Papa Francisco
Santa Missa pela XXVIII Jornada Mundial da Juventude 

Rio de Janeiro
Domingo, 28 de julho de 2013
Venerados e amados Irmãos no episcopado e no sacerdócio,
Queridos jovens!

«Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Com estas palavras, Jesus se dirige a cada um de vocês, dizendo: «Foi bom participar nesta Jornada Mundial da Juventude, vivenciar a fé junto com jovens vindos dos quatro cantos da terra, mas agora você deve ir e transmitir esta experiência aos demais». Jesus lhe chama a ser um discípulo em missão! Hoje, à luz da Palavra de Deus que acabamos de ouvir, o que nos diz o Senhor? Três palavras: Ide, sem medo, para servir.

1. Ide. Durante estes dias, aqui no Rio, vocês puderam fazer a bela experiência de encontrar Jesus e de encontrá-lo juntos, sentindo a alegria da fé. Mas a experiência deste encontro não pode ficar trancafiada na vida de vocês ou no pequeno grupo da paróquia, do movimento, da comunidade de vocês. Seria como cortar o oxigênio a uma chama que arde. A fé é uma chama que se faz tanto mais viva quanto mais é partilhada, transmitida, para que todos possam conhecer, amar e professar que Jesus Cristo é o Senhor da vida e da história (cf. Rm 10,9).
Mas, atenção! Jesus não disse: se vocês quiserem, se tiverem tempo, mas: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Partilhar a experiência da fé, testemunhar a fé, anunciar o Evangelho é o mandato que o Senhor confia a toda a Igreja, também a você. É uma ordem sim; mas não nasce da vontade de domínio ou de poder, nasce da força do amor, do fato que Jesus foi quem veio primeiro para junto de nós e nos deu não somente um pouco de Si, mas se deu por inteiro, deu a sua vida para nos salvar e mostrar o amor e a misericórdia de Deus. Jesus não nos trata como escravos, mas como homens livres, amigos, como irmãos; e não somente nos envia, mas nos acompanha, está sempre junto de nós nesta missão de amor.
Para onde Jesus nos manda? Não há fronteiras, não há limites: envia-nos para todas as pessoas. O Evangelho é para todos, e não apenas para alguns. Não é apenas para aqueles que parecem a nós mais próximos, mais abertos, mais acolhedores. É para todas as pessoas. Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor.
De forma especial, queria que este mandato de Cristo -”Ide” – ressoasse em vocês, jovens da Igreja na América Latina, comprometidos com a Missão Continental promovida pelos Bispos. O Brasil, a América Latina, o mundo precisa de Cristo! Paulo exclama: «Ai de mim se eu não pregar o evangelho!» (1Co 9,16). Este Continente recebeu o anúncio do Evangelho, que marcou o seu caminho e produziu muito fruto. Agora este anúncio é confiado também a vocês, para que ressoe com uma força renovada. A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que lhes caracterizam! Um grande apóstolo do Brasil, o Bem-aventurado José de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas dezenove anos! Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem! Este é o caminho a ser percorrido!
2. Sem medo. Alguém poderia pensar: «Eu não tenho nenhuma preparação especial, como é que posso ir e anunciar o Evangelho»? Querido amigo, esse seu temor não é muito diferente do sentimento que teve Jeremias, um jovem como vocês, quando foi chamado por Deus para ser profeta. Acabamos de escutar as suas palavras: «Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, sou muito novo». Deus responde a vocês com as mesmas palavras dirigidas a Jeremias: «Não tenhas medo… pois estou contigo para defender-te» (Jr 1,8). Deus está conosco!
«Não tenham medo!» Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai à nossa frente e nos guia. Ao enviar os seus discípulos em missão, Jesus prometeu: «Eu estou com vocês todos os dias» (Mt 28,20). E isto é verdade também para nós! Jesus não nos deixa sozinhos, nunca lhes deixa sozinhos! Sempre acompanha a vocês!
Além disso, Jesus não disse: «Vai», mas «Ide»: somos enviados em grupo. Queridos jovens, sintam a companhia de toda a Igreja e também a comunhão dos Santos nesta missão. Quando enfrentamos juntos os desafios, então somos fortes, descobrimos recursos que não sabíamos que tínhamos. Jesus não chamou os Apóstolos para viver isolados, chamou-lhes para que formassem um grupo, uma comunidade. Queria dar uma palavra também a vocês, queridos sacerdotes, que concelebram comigo esta Eucaristia: vocês vieram acompanhando os seus jovens, e é uma coisa bela partilhar esta experiência de fé! Mas esta é uma etapa do caminho. Continuem acompanhando os jovens com generosidade e alegria, ajudem-lhes a se comprometer ativamente na Igreja; que eles nunca se sintam sozinhos!
3. A última palavra: para servir. No início do salmo proclamado, escutamos estas palavras: «Cantai ao Senhor Deus um canto novo» (Sl 95, 1). Qual é este canto novo? Não são palavras, nem uma melodia, mas é o canto da nossa vida, é deixar que a nossa vida se identifique com a vida de Jesus, é ter os seus sentimentos, os seus pensamentos, as suas ações. E a vida de Jesus é uma vida para os demais. É uma vida de serviço.
São Paulo, na leitura que ouvimos há pouco, dizia: «Eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível» (1 Cor 9, 19). Para anunciar Jesus, Paulo fez-se «escravo de todos». Evangelizar significa testemunhar pessoalmente o amor de Deus, significa superar os nossos egoísmos, significa servir, inclinando-nos para lavar os pés dos nossos irmãos, tal como fez Jesus.
Ide, sem medo, para servir. Seguindo estas três palavras, vocês experimentarão que quem evangeliza é evangelizado, quem transmite a alegria da fé, recebe alegria. Queridos jovens, regressando às suas casas, não tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho. Na primeira leitura, quando Deus envia o profeta Jeremias, lhe dá o poder de «extirpar e destruir, devastar e derrubar, construir e plantar» (Jr 1,10). E assim é também para vocês. Levar o Evangelho é levar a força de Deus, para extirpar e destruir o mal e a violência; para devastar e derrubar as barreiras do egoísmo, da intolerância e do ódio; para construir um mundo novo. Jesus Cristo conta com vocês! A Igreja conta com vocês! O Papa conta com vocês! Que Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, lhes acompanhe sempre com a sua ternura: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Amém.


sábado, 27 de julho de 2013

ERA SÓ UMA LIÇÃO DE AMOR


Na manhã de hoje, de sol esplêndido e apenas algumas nuvens mais ousadas, talvez porque fossem tão lindas e suaves, se interpunham à visão plena do céu de infinito azul. Sai de casa para um desses afazeres comuns e necessários a todos nós, ir a um banco, ao supermercado, ao correio, buscar alguma coisa em algum lugar.

Passava exatamente por uma esquina, despendendo apenas a atenção necessária que a circunstância requer, quando, improvisamente, me vejo ser abordada por aquele homem.

No primeiro momento, confesso, fui possuída de certo temor, inúmeras hipóteses acorreram a minha mente, vivemos sentindo medo... Mas bastou erguer o olhar para de imediato, sentir imensa quietude, agora, possuída da certeza de que se tratava de um tipo que não pretendia fazer mal algum a ninguém. Seu semblante era de quem refletia.Cabeça inteiramente coberta pela neve do tempo, barba feita, face quase rosada, como de alguém que todo dia sai de casa e vai tomar um pouco de sol.  As roupas que não chegavam a ser surradas, também não revelavam que fosse o caso de se colocar fora de uso. Estava calçado.   O corpo vergado denotava seu avanço em anos.

Queria apenas falar alguma coisa. Claro que me dispus e na melhor atitude que encontrei coloquei-me em atitude de escuta diante dele.  Ao notar a placidez daquela face, olhar distante de mim, repreendi-me por ter julgado que não obstante a aparência, e, certamente não precisar, fosse do tipo que pede dinheiro.
Há gente assim, por duas vezes, em um mesmo supermercado, com narrativa da mesma história deparei com velho conhecido, fora funcionário de banco. Passava necessidade... e  deixei-me cair em “autêntico conto do vigário”. Da segunda vez, não, além de lhe ter acrescentado doces, mas firmes palavras de repreensão. Só vi, quando se esgueirando entre prateleiras, sumiu para sempre. Nunca mais o vi.

Era só uma lição de amor
Meu interlocutor, ao invés, só queria ser ouvido. Ele sim, bem que gostarei de reencontrar muitas vezes.  Sem preâmbulo, objetivamente, como se fôssemos velhos amigos, ou retomássemos um discurso inacabado, como se tivéssemos travado outros tantos diálogos, foi-me perguntando, simplesmente: - Alguém pode se esquecer de alguém que o tenha tratado com carinho?

Não podia ser outra minha resposta: - claro que não. Nem sei se era o que queria ouvir, não sei sequer se queria alguma resposta, do mesmo modo que chegou, prosseguiu  seu caminho. Ainda olhei para trás e só vi um homem seguia.

COLCHA DE RETALHOS

     

Scarlet tinha os olhos marejados pelas lágrimas tiradas da alma em conflito consigo mesma. Os cabelos grisalhos,  desalinhados, esfarelados sobre os ombros num completo desatino com suas reflexões íntimas. Na silhueta da tarde morna, entre os ventos roçando suas lágrimas rolando feito um córrego faces abaixo, pensativa, olhava o horizonte como se a olhassem de dentro para fora e lhe via refletida em si mesma. Um breve portal reflexo num espelho enferrujado. Uma triste poetisa vencida pela estesia do tempo vazio!
  O tempo lhe havia roubado à beleza, os amores, as cores vibrantes, a vivacidade, os costumes de mulher arredia, os fogosos bailes, os amantes secretos. Às vezes, estragulada pela mórbida solidão, arrumava as cortinas empoeiradas, ajeitava as almofadas e pensava na ingratidão da vida. Soluçava afugentando o enorme desejo de ingerir uma dose fatal do veneno, único, sólido e eficaz. Chegava a sentir o aroma lírico a lhe ferir as mandíbulas como se as gotículas amargas ao decapitá-la a vida permitissem sentir o voo das gaivotas sobre o mar imaginário, as asas livres, soltas, batendo contra todos os ventos cruciais ou lhe permitisse pousar , vagarosamente ,sobre um enorme jardim repleto de crianças inocentes e  felizes. Seria assim a visão da morte?
   Sua vida de amores perversos, salientes, clandestinos; erros inconsequentes, desses que levam o indivíduo ao fundo do poço ou numa tristonha melancolia, resultando em depressão aguda. Pensava atordoada, deixaria apenas erros e agonias que atropelam as pessoas e a cidade, cúmplices desta tragédia humana que a todos, às vezes, comovem ou apenas crucificam a mulher e seus devaneios perversos? Cairia eternamente na boca do povo... Os erros, lamentavelmente, não seriam esquecidos na cidadezinha pacata. Que triste miséria humana, deixaria esses dissabores amorosos, suas frustrações cotidianas, como herança involuntária? Passaria assim, na vida, desapercebida?
    Scarlet, depois dos seus oitenta anos de vida, cheia de aventuras, poesia, loucuras, desprovida de bens materiais, almejava deixar uma única herança para os netos. Sua figura, embora envelhecida, não era  nada  frugal para que os netos pudessem guarda-la na parede da memória  como relíquia de uma velhinha sentada  numa cadeira de balanço, fazendo tricô ou crochê ;  ou aquela pequena idosa  com seus óculos bem grossos tecendo costura em sua velha máquina!... Nada desses dotes do pedestal e da  sentença da idade lhe refletiam como metáfora do envelhecimento. Scarlet possuía todos esses dotes, mas era poetisa , dessas que amanhece sobre suas folhas brancas e com as mãos trêmulas,  compunha versos e sonhos como se fossem restituir vidas... Vidas alheias e a sua própria vida!... Passou refletida na possível herança, por longas noites, até que,  num dia cinzento anunciando chuva, prestou atenção  nuns ruídos vindos do sótão, esquecido em meio à bagunça, eram os ruídos da velha máquina de costuras. Ficou atenta, pois todo o cômodo exala  um silêncio profundo. Olhou sorrateira e atentamente  a velha máquina e de súbito lhe veio à mente a ideia de  emendar os retalhos de pano. Eram restos de todas as cores que ao longo do tempo foram ficando estendidos no chão nu de taboas rústicas.
  A tarde caía, num crepúsculo cinzento e triste. Os pássaros , em revoada voltavam  aos ninhos e a velha máquina, manipulada pelas mãos trêmulas de Scarlet ia remendando,  sutilmente,  os retalhos,  panos de todos os tons que  ao serem emendados formariam uma linda colcha de retalhos. Scarlet pensava enquanto costurava: as cores representam sua vida -  os vermelhos escaldantes são como os dias de famosos bailes em que a mulher seduz. Encantava ao roçar-se, sensualmente, aos  charmosos cavalheiros. Cada retalho representa um pedaço de si própria  e,  costurando-os,  formava e emoldurava  a sua vida!  O pálido cinza, sozinho, abandonado assemelhava-se  à tristeza de seus dias, escorrendo como as águas desembocadas num mar sem retorno; seria como a garça em seu voo rotineiro de encontro aos filhotes aquecidos num sótão qualquer. Ó!...O vermelho sempre insistente, predominante, como os bailes, os belos cavalheiros e a música a  renovar as esperanças e expectativas; às vezes o roxo também necessário às tonalidades, simbologia de um luto, dos quais sempre esteve ausente, já que a morte tão naturalmente,  é a coisa mais certa. 
Para que tantas lamentações? Achava isso um tédio, a hipocrisia em algumas reclamações, mas presenciara o luto de uma dor imensurável, tal qual se perde a vida plena de gozo. E quando percebia,as doloridas lágrimas ensopavam as rugas trêmulas. Pensava: velórios são todos iguais, só mudam as personagens.  A ferida entreaberta, no espaço do peito esquerdo,  rompe-se  com a navalha cortante na despedida com sabor de sangue estilhaçado nas retinas quase cegas ao tempo. O tom metálico é o resplendor das baladas, o sol escaldante neste amarelo e no verde das esperanças de um pobre poeta brasileiro sem fama... Que importa aos brasis os seus poetas anônimos?... O branco existente em qualquer situação, retrata a bandeira da paz! E tudo termina em um azul, num indo e vindo infinito azul  da cor do mar!
  A colcha está pronta! O silêncio da noite é arrebatado pelas ondas do mar!...Lá longe, impermeada pelo soluço de su’alma plagiada nas recordações do passado... retalhos de um tempo vivido e um futuro certo!  Neste momento,  mistura-se ao som do mar e às gotas pesadas da chuva forte, parecendo uma prece murmurada em desalinho comovendo Scarlet. Os ruídos da velha máquina de costura, por certo, cessaram ,como cessam as chuvas barulhentas e até o amor platônico.Solene, a poetisa e seus medos perversos... Da solitária escrivaninha vê a morte de forma poética e  lírica. Os restos mortais seriam jogados em cinzas sobre o mar de Marataízes? Entre as mãos trêmulas,segura firme e convicta, a única herança que deixará para os netos. Uma colcha de retalhos, costurada por ela mesma, no cio da saudade tecida nas vísceras , já tão serenamente  dilaceradas pela dor e pela solidão.Mas essa dor e solidão lhes  são , necessariamente, companhia.
Scarlet enrola a colcha num ritual silencioso.  Ouve-se,  lá fora,  o pio sorrateiro do Iambu , prelúdio da morte do dia indo desfalecer ao entorno do mar. Seria uma das tantas réplicas de despedidas. Um cenário que até Scarlet já acostumava sentir como um adeus poético de  quem se despede da arte de descrever a própria missão. No  momento da entrega da única herança, seria inevitável um choro de despedida, uma lágrima estirada ao vento, sem grandes denominações domésticas. Apenas um ritual lírico deixado em marcas e cicatrizes nas cores da vida vivida e da colcha de retalhos . Deixaria, ali mesmo, a colcha e os sentimentos, todos emendados, costurados, tecidos  na vivência. Por certo, o neto mais velho a encontraria, alguns anos depois... Não se sabe,   há quanto tempo? Junto à colcha de retalhos, restos de tecidos de todas as cores formaram a sua vida agregada de valores éticos  e poéticos na decadência do anonimato inconsequente. As cores são representatividades de uma nobre existência plebeia, rastreada pela poesia.
 Sorria um riso desbotado e pensava: será que o neto mais velho entenderá a simbologia de cores ou de colchas de retalhos? A deixou, ali, nas entranhas do sótão, ajuntada a um encardido papel amassado, desfalecido pelo tempo, contendo um poema tal qual seu estado de espírito lírico encenado, imortal e intitulado:
Doloroso dever
Anuncia, por favor, que tal dia numa derradeira hora, eu fiz a passagem.. .
Que ninguém mais vai me falar, nem ao pior me ouvir,
Nada de choros, lamentos, rezas, nem questionamentos.
Avise aos amigos mais chegados, aos parentes queridos;  mas, por favor, coloque um aviso bem diferente, aos companheiros de poesia e trovas, às amigas íntimas e às parceiras de vinhos,
Mas fale de forma justa: A poetisa partiu! Diga que não houve “causa mortis”.
Nenhum diagnóstico técnico foi procedido, Portanto,  sê  natural , sem dramatizar...
Nada de  choros, nem velas, nem rezas...
Nem anúncios entristecidos ao som de Ave-Maria Penses  numa música latente , fervente , que tocará aos meus ouvidos uma serenata flamenca.
Quero cor, música e batons coloridos na minha boca que requer um símbolo diferente, que disfarce qualquer tristeza.
Aos que perguntarem a causa, disfarças ou ri e dize que apenas não sabe ao certo, se, no entanto, ao todo for impossível, de forma bem discreta diga que morri de amor...
Que estou morta de paixão...Assim morrem os poetas!...
Junto ao bilhete deixo-te a colcha, sobras de tecidos de todas as cores, costurando-os, foram formando a colcha, pedaços de cores, pedaços de vida. Cores alegres e tristes. Ó...a colcha subia e descia ao costurar, como a vida e a poesia e deposito nas tuas pequeninas mãos , como lição de vida!
Neto-filho, mais que filho, como a vida, a colcha tem erros que consertamos ao costurar, mas na vida nem sempre há remendos, nem sempre há consertos. Deixo a colcha de retalhos, a poesia e o perdão pela vida inconsequentemente lírica e cheia de erros. Lamento, meu neto, não deixar nada mais que uma modesta colha de retalhos, a poesia me bastou!

 Assim,Scarlet balbucia as últimas palavras e cerra as pálpebras trêmulas.

Bárbara Pérez.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

A MULHER BEM PAGA

A NOITE DE AUTÓGRAFOS DE MÁRCIA ANTUNES FRANÇA

A escritora apresenta sua obra.

Recebe flores. 

Participa do Sarau. 
Lê uma de suas crônicas


A MULHER BEM PAGA, livro de estreia da escritora Márcia Antunes França, é resultado de um sonho, ela afirma que, em sonho, lhe foi comunicado que o escreveria com exato esse nome. Narra a vida de Sofia, oriunda de família humilde, provou muitas dificuldades, uma mulher que tenazmente, buscou sua independência financeira.
O aplauso de amigas.
Carinhosamente. 

Curiosos quando tomaram conhecimento do nome da futura obra, chegaram a lhe  perguntar, se entendia de prostitutas, ao que respondeu não, o que deriva do título que sugere pagamento com dinheiro. Não, não é o caso. 

Como exemplo do que diz, testemunha com sua própria vida, sente-se uma "mulher bem paga" pelo que pode fazer, destacando um particular momento em que viu-se numa batalha pelo não fechamento de determinada escola, útil para seus filhos e todos de sua condição.

Seguem alguns trechos do livro:

Primeiro baile: Sofia começou então, a providenciar uma fantasia, pois suas primas iriam fantasiadas. Pensou em fantasiar-se de índio.

A jovem professora: quando contou às suas amigas como gastara o primeiro salário chegou a ser censurada por algumas. Ela deveria ter gasto consigo mesma, comprando roupas e sapatos novos, perfume, bolsa e outros acessórios tão almejados por uma jovem.

Namoro: De vez em quando, Sofia olhava pela porta da sala para ver se Erick estava chegando. Volta e meia, olhava-se no espelho para ver se estava tudo certo com sua roupa e ter certeza de que receberia muitos elogios do namorado.

Dificuldades: Depois de ouvir o relato do seu sonho, a secretária do médico a tranquilizou, dizendo-lhe que deveria mesmo enterrar a Sofia sofrida e ressuscitá-la numa Sofia extrovertida e esperançosa, como fora na sua adolescência.

Aos setenta anos... Bem, vou deixar que vocês leiam o livro.

São quase trezentas páginas de narrativa de um vida que conheceu muitas variações.

No Programa CAFÉ COM LETRAS, realização do poeta Leonardo Picinati, todas as quintas-feiras,  no Shopping Norte Sul, ontem, 25 de julho, ocorreu o primeiro lançamento da obra. 

MÃOS QUE CANTAM

Mãos que cantam

                                                Aos jovens do Conjunto “Mãos que cantam”.

Mãos que cantam?
Como é?
Como as mães cantam?
Desde quando acontece
esta de mãos que cantam?

Preciso saber
me disseram que era um coral
e o som que ouvi
não brotava de nenhum
daqueles lábios que vi.

Eu chequei um por um
não eram os lábios,
eram as mãos
coordenadas com perfeição
que traduziam em gestos
as palavras ouvidas.

Sim, mãos cantam.
Não duvidem,
acreditem,
eu vi.


MEDICINA X POLÍTICA

           Em face da nova determinação do governo PT, de que o curso de  formação de médicos deve se extender a oito anos, com a obrigação para os alunos de mais dois anos de dedicação ao estado para a obtenção de diploma  médico...
Admitindo ainda que para o atendimento da população mais carente o atendimento medico deve ser exercido por profissionais ainda em formação, concedendo apenas ao alto comando da política os recursos  especializados... ...
 A medicina é uma das muitas áreas do conhecimento ligada à manutenção e restauração da saúde. Ela trabalha, num sentido amplo, com a prevenção e cura das doenças humanas e animais num contexto médico. Não pode ficar subordinada a interesses partidários
Em lugar de obrigar acadêmicos ao exercício da medicina pública, ainda despreparados, o correto e honesto é ceder- lhes ambientes e estudos de aprimoramento, como respeito ao ser humano e, logicamente, respeito à estrutura da saude nacional
          “ Mente sana in corpore sano”
Saude, segundo a Organização Mundial, não é apenas a ausência de doença. Consiste no bem-estar físico, mental, psicológico e social do indivíduo.            
É um estado cumulativo, que deve ser promovido durante toda a vida, de maneira a assegurar-se de que seus benefícios sejam integralmente desfrutados em dias posteriores.1 Nesse contexto, diretrizes de organizações supra-nacionais compostas por eminentes intelectuais do globo, relacionados à área  médica,  estabelecem um novo paradigma de abordagem para o atendimento e tratamento médico.
Em lugar de médicos cubamnos com a missão, tembem de pregações  políticos sociais, que ofendem nossa tradição Cristá, que venham médicos técinidos cientistas aprimorados dos Estados Unidos, da Inglaterra, da Alemanha, da França e alem de tudo com profundas vivencias e conceitos emocráticos  e não humildes trabalhadore cubanos seduzidos pelos REAIS  QUE TANTO PODEM ESTAR FAZENDO  FALTA PARA A ELEVAÇÃO CULTURAL E TÉCNICA DOS  NOSSOS ESCOLARES, QUE ASSUMEM DOENÇAS POR FALTA DE CONHECIMENTOS E VIVÊNCIA DE APOIO,  POR POLÍTICAS DE INTERESSE DE DOMÍNIO,  COM MEDO DA VERDADEIRA DEMOCRECIA  DE   CULTURA  M,ENTAL  E  ESPIRITUAL
Santo patrono da Medicina é São Lucas  nunca Karl Marx .

Fahed Daher é médico, Governador 95/96 do Distrito 4.710  de Apucarana PR, pertence a Academia de Letras de Londina, ao Centro de Letras do Paraná, a Academia de Letras José de Alencar entre outras.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

O PERDÃO, RAIZ DE TUDO

Ame seu familiar e próximo, apesar de todas as brigas que houve entre vocês.


Pelas decepções e revoltas causadas por um irmão ou uma irmã que foi injusto(a) com você, que o desprezou, lesou, ofendeu, causando-lhe prejuízo econômico e prejuízo à sua honra, que falou mal de você, embora fosse seu irmão. Pelas decepções por causa de herança e terra...

Às vezes, irmãos e cunhados brigam entre si até por causa do cachorro. O problema com o animal passa, mas fica a decepção, a inimizade, enquanto o cachorro está belo e folgado.

Impressionante: no perdão está a raiz de tudo! Derrama, Senhor, sobre cada um de meus irmãos, a decisão de perdoar e amar.

Que Deus abençoe

Monsenhor Jonas Abib

Fundador da Comunidade Canção Nova









segunda-feira, 22 de julho de 2013

O PAPA CHEGOU

Vim para a JMJ para encontrar os jovens que vieram de todo o mundo atraídos pelos braços abertos pelo Cristo Redentor. Estes jovens provêm de diversos continentes, falam línguas diferentes, são portadores de variadas culturas e, todavia, em Cristo encontram as respostas para suas mais altas e comuns aspirações e podem saciar a fome de verdade límpida e de amor autêntico que os irmanem para além de toda diversidade."


Papa Francisco

O Papa Francisco chegou ao Brasil às 15h43 desta segunda-feira (22) para presidir a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e saudou os jovens em seu primeiro discurso, no Rio de Janeiro. "Cristo bota fé nos jovens", afirmou o pontífice argentino, que faz sua primeira viagem internacional desde que foi escolhido sucessor de Bento XVI. O Papa fica no país até domingo (28) e ainda visitará a cidade de Aparecida (SP), nesta quarta.

Leia a íntegra do discurso a seguir:

"Senhora Presidenta, Ilustres Autoridades, Irmãos e amigos!

Quis Deus na sua amorosa providência que a primeira viagem internacional do meu Pontificado me consentisse voltar à amada América Latina, precisamente ao Brasil, nação que se gloria de seus sólidos laços com a Sé Apostólica e dos profundos sentimentos de fé e amizade que sempre a uniram de modo singular ao Sucessor de Pedro. Dou graças a Deus pela sua benignidade.

Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta.

Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo! Venho em seu Nome, para alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração; e desejo que chegue a todos e a cada um a minha saudação: “A paz de Cristo esteja com vocês!”

Saúdo com deferência a senhora presidenta e os ilustres membros do seu governo. Obrigado pelo seu generoso acolhimento e por suas palavras que externaram a alegria dos brasileiros pela minha presença em sua Pátria. Cumprimento também o senhor governador deste Estado, que amavelmente nos recebe na sede do governo, e o senhor prefeito do Rio de Janeiro, bem como os Membros do Corpo Diplomático acreditado junto ao governo brasileiro, as demais autoridades presentes e todos quantos se prodigalizaram para tornar realidade esta minha visita.

Quero dirigir uma palavra de afeto aos meus irmãos no Episcopado, sobre quem pousa a tarefa de guiar o Rebanho de Deus neste imenso País, e às suas amadas igrejas particulares. Esta minha visita outra coisa não quer senão continuar a missão pastoral própria do Bispo de Roma de confirmar os seus irmãos na Fé em Cristo, de animá-los a testemunhar as razões da Esperança que d’Ele vem e de incentivá-los a oferecer a todos as inesgotáveis riquezas do seu Amor.

O motivo principal da minha presença no Brasil, como é sabido, transcende as suas fronteiras. Vim para a Jornada Mundial da Juventude. Vim para encontrar os jovens que vieram de todo o mundo, atraídos pelos braços abertos do Cristo Redentor. Eles querem agasalhar-se no seu abraço para, junto de seu Coração, ouvir de novo o seu potente e claro chamado: "Ide e fazei discípulos entre todas as nações".

Estes jovens provêm dos diversos continentes, falam línguas diferentes, são portadores de variadas culturas e, todavia, em Cristo encontram as respostas para suas mais altas e comuns aspirações e podem saciar a fome de verdade límpida e de amor autêntico que os irmanem para além de toda diversidade.

Cristo abre espaço para eles, pois sabe que energia alguma pode ser mais potente que aquela que se desprende do coração dos jovens quando conquistados pela experiência da sua amizade. Cristo “bota fé” nos jovens e confia-lhes o futuro de sua própria causa: “Ide, fazei discípulos”. Ide para além das fronteiras do que é humanamente possível e criem um mundo de irmãos. Também os jovens “botam fé” em Cristo. Eles não têm medo de arriscar a única vida que possuem porque sabem que não serão desiludidos.

Ao iniciar esta minha visita ao Brasil, tenho consciência de que, ao dirigir-me aos jovens, falarei às suas famílias, às suas comunidades eclesiais e nacionais de origem, às sociedades nas quais estão inseridos, aos homens e às mulheres dos quais, em grande medida, depende o futuro destas novas gerações.

Os pais usam dizer por aqui: “os filhos são a menina dos nossos olhos”. Que bela expressão da sabedoria brasileira que aplica aos jovens a imagem da pupila dos olhos, janela pela qual entra a luz regalando-nos o milagre da visão! O que vai ser de nós, se não tomarmos conta dos nossos olhos? Como haveremos de seguir em frente? O meu auspício é que, nesta semana, cada um de nós se deixe interpelar por esta desafiadora pergunta.

A juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo e, por isso, nos impõe grandes desafios. A nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço; tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos, sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e educação para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida mereça ser vivida, assegurar-lhe um horizonte transcendente que responda à sede de felicidade autêntica, suscitando nele a criatividade do bem; entregar-lhe a herança de um mundo que corresponda à medida da vida humana; despertar nele as melhores potencialidades para que seja sujeito do próprio amanhã e corresponsável do destino de todos.

Concluindo, peço a todos a delicadeza da atenção e, se possível, a necessária empatia para estabelecer um diálogo de amigos. Nesta hora, os braços do Papa se alargam para abraçar a inteira nação brasileira, na sua complexa riqueza humana, cultural e religiosa. Desde a Amazônia até os pampas, dos sertões até o Pantanal, dos vilarejos até as metrópoles, ninguém se sinta excluído do afeto do Papa. Depois de amanhã, se Deus quiser, tenho em mente recordar-lhes todos a Nossa Senhora Aparecida, invocando sua proteção materna sobre seus lares e famílias. Desde já a todos abençoo. Obrigado pelo acolhimento!"



domingo, 14 de julho de 2013

PATRIMONIALISMO

Patrimonialismo é característica do Estado, no qual não exista distinção entre o que é bem público e o que é bem privado. É uma espécie de vírus que tem o condão de fundir, misturar o interesse público com o interesse privado, sempre em detrimento do interesse público. Era característica marcante dos Estados absolutistas da Idade Média, cujos chefes eram monarcas (reis), dentre os quais figurava Portugal, que descobriu o Brasil. Exemplifica bem tal concepção a frase atribuída ao  “Rei-Sol”, Luís XIV (1643-1715), da França, consistente em “L´É tat c´est moi” (O Estado sou eu). Através da cultura português, herdamos essa imoral endemia.  
O Brasil, frise-se, descoberto (1500) e colonizado por Portugal, obsorveu a cultura portuguesa, dentre cujas características se destacava a mentalidade patrimonialista, que atravessou o Período Colonial (1500-1822), que percorreu o Período Imperial (1882-1889), que enveredou pela República Velha (1889-1930),  chegando aos nossos dias ainda com muita pujança. 

Como o Corporativismo e a Corrupção, o Patrimonialismo é enfermidade, de natureza imoral, que contamina, seriamente, as Administrações Públicas em geral, pelo que, há muito, está a exigir antídoto adequado e urgente. O Patrimonialismo, em regra, assume formas as mais diversas, dentre as quais, destacamos os seguintes exemplos: 1) – concursos públicos fraudulentos para aprovação de parentes e amigos, a ponto de transformarem setores da Administração Pública em verdadeiros “condomínios familiares”; 2) – licitações públicas viciadas, para beneficiarem empresas financiadoras de campanhas políticas; 3) – entrega, a Partidos Políticos “da base”, de Empresas Públicas, Secretarias, com status de Ministério, e inclusive Ministérios, “de porteira fechada””, em troca de algo moral ou eticamente condenável, o que ocasionou, durante o primeiro ano de governo da atual Presidente, a exoneração de 06 Ministros, todos suspeitos de graves irregularidades; 4) – uso frequente de nepotismo, clientelismo e fisiologismo; 5) – uso, bem recentemente,  de 3 aviões da Força Aérea Brasileira, por Luiz Henrique Alves, Presidente da Câmara, por Renan Calheiros, Presidente do Senado, e por Garibaldi Alves, Senador e Ministro da Previdência Social, para atender interesses eminentemente pessoais; 6) – e ... até tu, Joaquim Barbosa!!!   

Quem, afinal, é a vítima do Patrimonialismo? Por óbvio, toda a Sociedade, que deveria ser beneficiária direta, exclusiva e permanente num Estado que se diz Democrático de Direito, cujas Administrações devem observar, rigorosamente, os princípios constitucionais, sobretudo o da legalidade, o da razoabilidade, o da moralidade, o da Impessoalidade, o da publicidade e o da eficiência.  

Concluindo, urge que perguntemos: a quem compete fiscalizar os atos das Administrações Públicas em geral? Resposta: compete às Corregedorias, aos Legislativos, aos Tribunais de Conta, aos Ministérios Públicos, ao Poder Judiciário (como ente julgador) e, também, à Sociedade Civil Organizada, pois a cada qual cabe uma parcela de responsabilidade na luta para que se materialize tal desiderato. A propósito, invocamos a dicção de Louhanne Mota: “Lutar, sempre; vencer, talvez; desistir, jamais”.

 Salvador Bonomo. 

Ex-Deputado estadual e Promotor de Justiça, aposentado.

Vitória, ES, 5.07.2013.

 

sábado, 13 de julho de 2013

SÓ CRISTO IMPORTA

A ideologia cristã

É neste palco que surgiu o cristianismo, pregando, a partir da periferia do mundo de então, uma nova ideologia, uma "Boa Nova", que despertava muito a atenção do povo, sobretudo os mais pobres. O Apóstolo Paulo, pregando em língua grega em todos os grandes centros, consolidou um novo modelo de cristianismo que diferia do cristianismo Ortodoxo original, existente em Jerusalém e ao Judaísmo. A grande aceitação do cristianismo entre os gregos e romanos, os gentios,foi porque passaram a se perceber como "depositários da fé e filhos da Promessa".
Opondo-se ao pensamento grego racionalista e teórico, o pensamento semita afirmou a historicidade e dramaticidade da vida humana, o sujeito, a pessoa, a consciência, o sentimento, a irreversibilidade do tempo, a Providência de Deus Pai e a salvação para todos por um gesto misteriosamente eficaz de um "Deus-Homem", Jesus Cristo. Esta era a "Boa Nova" (em grego Evangélion) anunciada de cidade em cidade e que atraía milhares de adeptos bem como incomodava os círculos do poder.
Em Roma, o cristianismo emancipou-se depois de três séculos de contradições e perseguições. Qual seria o perigo que ele representava? Outra vez deixaremos as causas mais históricas e específicas para determo-nos em dois pontos: a pregação cristã e o culto a Cristo. A pregação cristã era dirigida sobretudo a periferia de Roma. A estes povos dominados, massacrados, tidos como "povinho" pela ideologia da superioridade romana; explorados, escravizados e constantemente ameaçados, o cristianismo prega: a igualdade de todos os homens, a filiação divina de todos, a criação e a paterna providência de Deus, a salvação de todos e a ressurreição, uma outra vida para os sofridos e pobres, a caridade para com o próximo e, sobretudo a repartição das riquezas, condição, para a conversão à comunidade "dos eleitos". Isto criou toda uma espiritualidade dos grupos perseguidos, que passou a chamar a atenção dos povos naquele tempo.
Esta plataforma pregada com a tenacidade e o testemunho da morte (Pedro e Paulo morrem em Roma crucificados e decapitados) tem efeito explosivo e transformador. As perseguições aos cristão são, sobretudo, pelo perigo que a sua pregação acarretava na decadente Roma dos séculos I e II d.C.. E o outro ponto importante é a pertença a uma comunidade, uma identidade religiosa onde todos "tinham tudo em comum e dividiam seus bens com alegria de modo que não havia necessitados entre eles".
O segundo ponto é o culto ao Christós, o filho de Deus, completamente puro de todo o pecado, título divino que os cristão tinham dado a Jesus de Nazaré, o Jesus histórico. Afirmar que o Jesus de Nazaré, histórico, é o "Christós" do universo e da sua vida é o primeiro ato da fé cristã, libertando-se do Judaísmo. Mas o importante é que o culto a Cristo é a negação do culto ao Augusto, título igualmente divino e prerrogativa de todos os Césares a partir de Otávio, que instituiu este culto, para todo o império, como suporte ideológico-político de sua dominação, paralelo ao culto dos demais deuses do panteão romano copiado dos gregos, Detenhamo-nos no seu aspecto político-religioso. Afirmar que o sol não era deus significava deixar inúmeros templos vazios e sacerdotes sem função, e mesmo deixar o Exército sem proteção. Afirmar que o imperador não é Deus é subversão política que as leis classificavam como crime de morte. Dizer que o imperador não é Deus é negar a sua efígie na moeda que corre, é negar os valores desta sociedade da qual ele é o símbolo e a sanção sagrada. Tudo isso é ser subversivo e as camadas dominantes rapidamente perceberam isto. Mas as perseguições, aliadas a outras causas internas e externas, aceleraram o processo de transformação do império romano. Do ano 50, quando chegou a Roma, o cristianismo sofreu quatorze grandes perseguições, até que em 313 foi proclamado "religião oficial do Estado" pelo imperador Constantino. Começou então uma nova época para o cristianismo, a união entre poder político e religioso que gerou a cristandade medieval. Era a superação da cultura romana elaborada em sua interioridade e o surgimento de nova síntese cultural: a "cristandade", que se opunha à superada "romanidade".
Nos dois séculos seguintes, IV e V, um outro fenômeno aconteceu em nível da religião (comunidade) e do império. Na comunidade surgiu uma crescente categoria que usurpou cada vez mais os poderes religiosos comunitários e concentrou os ministérios e funções em suas mãos: o clero. Desenvolvem uma ideologia (teologia) de justificação da função (O Cristo cabeça e a figura do Pastor) e aliam-se cada vez mais aos grupos dominantes. Deus Pai, que é amoroso e envia ao Mundo seu Filho para dizer que Ele quer salvar a Humanidade, é transformado em Deus carrasco que vê pecado em tudo e julga a humanidade com mão de ferro. Santo Agostinho é um dos teóricos deste movimento, propondo a divisão do poder em seu livro "Cidade de Deus e Cidade dos Homens", duas figuras básicas para explicar o poder da igreja e do Imperador. O papa, bispo de Roma com a justificação ideológica do primado de Pedro, toma o poder sobre os demais bispos e se configura em um novo "imperador" com palácios, títulos, vestes e bastão, símbolos de poder.

O triunfo histórico do cristianismo

Quando o Império Romano afundava sobre os ataques dos povos bárbaros, que vieram do norte, a Igreja já tinha poder suficiente para empreender a catequese destes povos. Faz do chefe bárbaro um imperador e impõe sobre ele a doutrina cristã, erigindo-se como a nova realidade do mundo: A Idade Média. Nessa época, com o surgimento de povos do norte que começam a invadir o Império Romano, o povo começa a fugir das cidades romanas. Os bárbaros povo de origem germânica, que não falava latim) que invadiam as cidades, saqueavam, violentavam mulheres, levavam jovens para ser soldados; incendiavam as cidades), foram responsáveis por mudanças no Império Romano. O povo com medo dos bárbaros fugia para os campos, chamados feudos (espécie de vilas ou fazendas) onde se ofereciam para trabalhar para os proprietários. Em troca do trabalho, moradia, alimentação e proteção, faziam um acordo de permanecer na terra do senhor enquanto vivessem e seus filhos da mesma forma. Este sistema, que se chamou de Feudalismo e permaneceu até surgir a Idade Moderna.
O cristianismo floresceu nesse meio. As vilas foram crescendo com a chegada cada vez maior de pessoas provindas das cidades. As vilas tinham o castelo do Senhor e o Templo, onde eram celebradas as missas; cumpridas as orações, da manhã, meio dia, anoitecer, sendo marcadas com o toque do sino. O povo devia obrigação de participar das orações e missa, confessar seus pecados, receber a hóstia, obedecer os mandamentos e dar as ofertas.

MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI PARA A JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

 Escrita no pontificado de Bento XVI.

Bento XVI Papa Emérito
“Ide e fazei discípulos entre as nações!” (cf. Mt 28,19)

Queridos jovens, Desejo fazer chegar a todos vós minha saudação cheia de alegria e afeto. Tenho a certeza que muitos de vós regressastes a casa da Jornada Mundial da Juventude em Madri mais “enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé” (cf. Col 2,7). Este ano, inspirados pelo tema: “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fil 4,4) celebramos a alegria de ser cristãos nas várias dioceses. E agora estamos nos preparando para a próxima Jornada Mundial, que será celebrada no Rio de Janeiro, Brasil, em julho de 2013.

 
Desejo, em primeiro lugar, renovar a vós o convite para participardes nesse importante evento. A conhecida estátua do Cristo Redentor, que se eleva sobre àquela bela cidade brasileira, será o símbolo eloquente deste convite: seus braços abertos são o sinal da acolhida que o Senhor reservará a todos quantos vierem até Ele, e o seu coração retrata o imenso amor que Ele tem por cada um e cada uma de vós. Deixai-vos atrair por Ele! Vivei essa experiência de encontro com Cristo, junto com tantos outros jovens que se reunirão no Rio para o próximo encontro mundial! Deixai-vos amar por Ele e sereis as testemunhas de que o mundo precisa.

Convido a vos preparardes para a Jornada Mundial do Rio de Janeiro, meditando desde já sobre o tema do encontro: “Ide e fazei discípulos entre as nações” (cf. Mt 28,19). Trata-se da grande exortação missionária que Cristo deixou para toda a Igreja e que permanece atual ainda hoje, dois mil anos depois. Agora, este mandato deve ressoar fortemente em vosso coração. O ano de preparação para o encontro do Rio coincide com o Ano da Fé, no início do qual o Sínodo dos Bispos dedicou os seus trabalhos à “nova evangelização para a transmissão da fé cristã”. Por isso, me alegro que também vós, queridos jovens, sejais envolvidos neste impulso missionário de toda a Igreja: fazer conhecer Cristo é o dom mais precioso que podeis fazer aos outros.

1. UMA CHAMADA URGENTE

A história mostra-nos muitos jovens que, através do dom generoso de si mesmos, contribuíram grandemente para o Reino de Deus e para o desenvolvimento deste mundo, anunciando o Evangelho. Com grande entusiasmo, levaram a Boa Nova do Amor de Deus manifestado em Cristo, com meios e possibilidades muito inferiores àqueles de que dispomos hoje em dia. Penso, por exemplo, no Beato José de Anchieta, jovem jesuíta espanhol do século 16, que partiu em missão para o Brasil quando tinha menos de 20 anos e se tornou um grande apóstolo do Novo Mundo. Mas penso também em tantos de vós que se dedicam generosamente à missão da Igreja: disto mesmo tive um testemunho surpreendente na Jornada Mundial de Madri, em particular na reunião com os voluntários.

Hoje, não poucos jovens duvidam profundamente que a vida seja um bem, e não veem com clareza o próprio caminho. De um modo geral, diante das dificuldades do mundo contemporâneo, muitos se perguntam: E eu, que posso fazer? A luz da fé ilumina esta escuridão, nos fazendo compreender que toda existência tem um valor inestimável, porque é fruto do amor de Deus. Ele ama mesmo quem se distanciou ou esqueceu d’Ele: tem paciência e espera; mais que isso, deu o seu Filho, morto e ressuscitado, para nos libertar radicalmente do mal. E Cristo enviou os seus discípulos para levar a todos os povos este alegre anúncio de salvação e de vida nova.

A Igreja, para continuar esta missão de evangelização, conta também convosco. Queridos jovens, vós sois os primeiros missionários no meio dos jovens da vossa idade! No final do Concílio Ecumênico Vaticano II, cujo cinquentenário celebramos neste ano, o Servo de Deus Paulo VI entregou aos jovens e às jovens do mundo inteiro uma mensagem que começava com estas palavras: “É a vós, rapazes e moças de todo o mundo, que o Concílio quer dirigir a sua última mensagem, pois sereis vós a recolher o facho das mãos dos vossos antepassados e a viver no mundo no momento das mais gigantescas transformações da sua história, sois vós quem, recolhendo o melhor do exemplo e do ensinamento dos vossos pais e mestres, ides constituir a sociedade de amanhã: salvar-vos-eis ou perecereis com ela”. E concluía com um apelo: “Construí com entusiasmo um mundo melhor que o dos vossos antepassados!” (Mensagem aos jovens, 8 de dezembro de 1965).

Queridos amigos, este convite é extremamente atual. Estamos passando por um período histórico muito particular: o progresso técnico nos deu oportunidades inéditas de interação entre os homens e entre os povos, mas a globalização destas relações só será positiva e fará crescer o mundo em humanidade se estiver fundada não sobre o materialismo, mas sobre o amor, a única realidade capaz de encher o coração de cada um e unir as pessoas. Deus é amor. O homem que esquece Deus fica sem esperança e se torna incapaz de amar seu semelhante. Por isso é urgente testemunhar a presença de Deus para que todos possam experimentá-la: está em jogo a salvação da humanidade, a salvação de cada um de nós. Qualquer pessoa que entenda essa necessidade, não poderá deixar de exclamar com São Paulo: “Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho” (1 Cor 9,16).

2. TORNAI-VOS DISCÍPULOS DE CRISTO

Esta chamada missionária vos é dirigida também por outro motivo: é necessário para o nosso caminho de fé pessoal. O Beato João Paulo II escrevia: “É dando a fé que ela se fortalece” (Encíclica “Redemptoris missio”, 2). Ao anunciar o Evangelho, vós mesmos cresceis em um enraizamento cada vez mais profundo em Cristo, vos tornais cristãos maduros. O compromisso missionário é uma dimensão essencial da fé: não se crê verdadeiramente, se não se evangeliza. E o anúncio do Evangelho não pode ser senão consequência da alegria de ter encontrado Cristo e ter descoberto n’Ele a rocha sobre a qual construir a própria existência. Comprometendo-vos no serviço aos demais e no anúncio do Evangelho, a vossa vida, muitas vezes fragmentada entre tantas atividades diversas, encontrará no Senhor a sua unidade; construir-vos-eis também a vós mesmos; crescereis e amadurecereis em humanidade.

Mas, que significa ser missionário? Significa acima de tudo ser discípulo de Cristo e ouvir sem cessar o convite a segui-Lo, o convite a fixar o olhar n’Ele: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). O discípulo, de fato, é uma pessoa que se põe à escuta da Palavra de Jesus (cf. Lc 10,39), a quem reconhece como o Mestre que nos amou até o dom de sua vida. Trata-se, portanto, de cada um de vós deixar-se plasmar diariamente pela Palavra de Deus: ela vos transformará em amigos do Senhor Jesus, capazes de fazer outros jovens entrar nesta mesma amizade com Ele.

Aconselho-vos a guardar na memória os dons recebidos de Deus, para poder transmiti-los ao vosso redor. Aprendei a reler a vossa história pessoal, tomai consciência também do maravilhoso legado recebido das gerações que vos precederam: tantos cristãos nos transmitiram a fé com coragem, enfrentando obstáculos e incompreensões. Não o esqueçamos jamais! Fazemos parte de uma longa cadeia de homens e mulheres que nos transmitiram a verdade da fé e contam conosco para que outros a recebam. Ser missionário pressupõe o conhecimento deste patrimônio recebido que é a fé da Igreja: é necessário conhecer aquilo em que se crê, para podê-lo anunciar. Como escrevi na introdução do YouCat, o Catecismo para jovens que vos entreguei no Encontro Mundial de Madri, “tendes de conhecer a vossa fé como um especialista em informática domina o sistema operacional de um computador. Tendes de compreendê-la como um bom músico entende uma partitura. Sim, tendes de estar enraizados na fé ainda mais profundamente que a geração dos vossos pais, para enfrentar os desafios e as tentações deste tempo com força e determinação” (Prefácio).

3. IDE!

Jesus enviou os seus discípulos em missão com este mandato: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo” (Mc 16,15-16). Evangelizar significa levar aos outros a Boa Nova da salvação, e esta Boa Nova é uma pessoa: Jesus Cristo. Quando O encontro, quando descubro até que ponto sou amado por Deus e salvo por Ele, nasce em mim não apenas o desejo, mas a necessidade de fazê-lo conhecido pelos demais. No início do Evangelho de João, vemos como André, depois de ter encontrado Jesus, se apressa em conduzir a Ele seu irmão Simão (cf. 1,40-42). A evangelização sempre parte do encontro com o Senhor Jesus: quem se aproximou d’Ele e experimentou o seu amor, quer logo partilhar a beleza desse encontro e a alegria que nasce dessa amizade. Quanto mais conhecemos a Cristo, tanto mais queremos anunciá-lo. Quanto mais falamos com Ele, tanto mais queremos falar d’Ele. Quanto mais somos conquistados por Ele, tanto mais desejamos levar outras pessoas para Ele.

Pelo Batismo, que nos gera para a vida nova, o Espírito Santo vem habitar em nós e inflama a nossa mente e o nosso coração: é Ele que nos guia para conhecer a Deus e entrar em uma amizade sempre mais profunda com Cristo. É o Espírito que nos impulsiona a fazer o bem, servindo os outros com o dom de nós mesmos. Depois, através do sacramento da Confirmação, somos fortalecidos pelos seus dons, para testemunhar de modo sempre mais maduro o Evangelho. Assim, o Espírito de amor é a alma da missão: Ele nos impele a sair de nós mesmos para “ir” e evangelizar. Queridos jovens, deixai-vos conduzir pela força do amor de Deus, deixai que este amor vença a tendência de fechar-se no próprio mundo, nos próprios problemas, nos próprios hábitos; tende a coragem de “sair” de vós mesmos para “ir” ao encontro dos outros e guiá-los ao encontro de Deus.

4. ALCANÇAI TODOS OS POVOS

Cristo ressuscitado enviou os seus discípulos para dar testemunho de sua presença salvífica a todos os povos, porque Deus, no seu amor superabundante, quer que todos sejam salvos e ninguém se perca. Com o sacrifício de amor na Cruz, Jesus abriu o caminho para que todo homem e toda mulher possa conhecer a Deus e entrar em comunhão de amor com Ele. E constituiu uma comunidade de discípulos para levar o anúncio salvífico do Evangelho até os confins da terra, a fim de alcançar os homens e as mulheres de todos os lugares e de todos os tempos. Façamos nosso esse desejo de Deus!

Queridos amigos, estendei o olhar e vede ao vosso redor: tantos jovens perderam o sentido da sua existência. Ide! Cristo precisa também de vós. Deixai-vos envolver pelo seu amor, sede instrumentos desse amor imenso, para que alcance a todos, especialmente aos “afastados”. Alguns encontram-se geograficamente distantes, enquanto outros estão longe porque a sua cultura não dá espaço para Deus; alguns ainda não acolheram o Evangelho pessoalmente, enquanto outros, apesar de o terem recebido, vivem como se Deus não existisse. A todos abramos a porta do nosso coração; procuremos entrar em diálogo com simplicidade e respeito: este diálogo, se vivido com uma amizade verdadeira, dará seus frutos. Os “povos”, aos quais somos enviados, não são apenas os outros países, mas também os diversos âmbitos de vida: as famílias, os bairros, os ambientes de estudo ou de trabalho, os grupos de amigos e os locais de lazer. O jubiloso anúncio do Evangelho se destina a todos os âmbitos da nossa vida, sem exceção.

Gostaria de destacar dois campos, nos quais deve fazer-se ainda mais solícito o vosso empenho missionário. O primeiro é o das comunicações sociais, em particular o mundo da internet. Como tive já oportunidade de dizer-vos, queridos jovens, “senti-vos comprometidos a introduzir na cultura deste novo ambiente comunicador e informativo os valores sobre os quais assenta a vossa vida! [...] A vós, jovens, que vos encontrais quase espontaneamente em sintonia com estes novos meios de comunicação, compete de modo particular a tarefa da evangelização deste “continente digital” (Mensagem para o XLIII Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24 de maio de 2009). Aprendei, portanto, a usar com sabedoria este meio, levando em conta também os perigos que ele traz consigo, particularmente o risco da dependência, de confundir o mundo real com o virtual, de substituir o encontro e o diálogo direto com as pessoas por contatos na rede.

O segundo campo é o da mobilidade. Hoje são sempre mais numerosos os jovens que viajam, seja por motivos de estudo ou de trabalho, seja por diversão. Mas penso também em todos os movimentos migratórios, que levam milhões de pessoas, frequentemente jovens, a se transferir e mudar de região ou país, por razões econômicas ou sociais. Também estes fenômenos podem se tornar ocasiões providenciais para a difusão do Evangelho. Queridos jovens, não tenhais medo de testemunhar a vossa fé também nesses contextos: para aqueles com quem vos deparareis, é um dom precioso a comunicação da alegria do encontro com Cristo.

5. FAZEI DISCÍPULOS!

Penso que já várias vezes experimentastes a dificuldade de envolver os jovens da vossa idade na experiência da fé. Frequentemente tereis constatado que em muitos deles, especialmente em certas fases do caminho da vida, existe o desejo de conhecer a Cristo e viver os valores do Evangelho, mas tal desejo é acompanhado pela sensação de ser inadequados e incapazes. Que fazer? Em primeiro lugar, a vossa solicitude e a simplicidade do vosso testemunho serão um canal através do qual Deus poderá tocar seu coração. O anúncio de Cristo não passa somente através das palavras, mas deve envolver toda a vida e traduzir-se em gestos de amor. A ação de evangelizar nasce do amor que Cristo infundiu em nós; por isso, o nosso amor deve conformar-se sempre mais ao d’Ele. Como o Bom Samaritano, devemos manter-nos solidários com quem encontramos, sabendo escutar, compreender e ajudar, para conduzir quem procura a verdade e o sentido da vida, à casa de Deus que é a Igreja, onde há esperança e salvação (cf. Lc 10,29-37). Queridos amigos, nunca esqueçais que o primeiro ato de amor que podeis fazer ao próximo é partilhar a fonte da nossa esperança: quem não dá Deus, dá muito pouco. Aos seus apóstolos, Jesus ordena: “Fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei” (Mt 28,19-20). Os meios que temos para “fazer discípulos” são principalmente o Batismo e a catequese. Isto significa que devemos conduzir as pessoas que estamos evangelizando ao encontro com Cristo vivo, particularmente na sua Palavra e nos Sacramentos: assim poderão crer n’Ele, conhecerão a Deus e viverão da sua graça. Gostaria que cada um de vós se perguntasse: Alguma vez tive a coragem de propor o Batismo a jovens que ainda não o receberam? Convidei alguém a seguir um caminho de descoberta da fé cristã? Queridos amigos, não tenhais medo de propor aos jovens da vossa idade o encontro com Cristo. Invocai o Espírito Santo: Ele vos guiará para entrardes sempre mais no conhecimento e no amor de Cristo, e vos tornará criativos na transmissão do Evangelho.

6. FIRMES NA FÉ

Diante das dificuldades na missão de evangelizar, às vezes sereis tentados a dizer como o profeta Jeremias: “Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, sou muito novo”. Mas, também a vós, Deus responde: “Não digas que és muito novo; a todos a quem eu te enviar, irás” (Jr 1,6-7). Quando vos sentirdes inadequados, incapazes e frágeis para anunciar e testemunhar a fé, não tenhais medo. A evangelização não é uma iniciativa nossa nem depende primariamente dos nossos talentos, mas é uma resposta confiante e obediente à chamada de Deus, e portanto não se baseia sobre a nossa força, mas na d’Ele. Isso mesmo experimentou o apóstolo Paulo: “Trazemos esse tesouro em vasos de barro, para que todos reconheçam que este poder extraordinário vem de Deus e não de nós” (2 Cor 4,7).

Por isso convido-vos a enraizar-vos na oração e nos sacramentos. A evangelização autêntica nasce sempre da oração e é sustentada por esta: para poder falar de Deus, devemos primeiro falar com Deus. E, na oração, confiamos ao Senhor as pessoas às quais somos enviados, suplicando-Lhe que toque o seu coração; pedimos ao Espírito Santo que nos torne seus instrumentos para a salvação dessas pessoas; pedimos a Cristo que coloque as palavras nos nossos lábios e faça de nós sinais do seu amor. E, de modo mais geral, rezamos pela missão de toda a Igreja, de acordo com a ordem explícita de Jesus: “Pedi, pois, ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!” (Mt 9,38). Sabei encontrar na Eucaristia a fonte da vossa vida de fé e do vosso testemunho cristão, participando com fidelidade na missa ao domingo e sempre que possível também durante a semana. Recorrei frequentemente ao sacramento da Reconciliação: é um encontro precioso com a misericórdia de Deus que nos acolhe, perdoa e renova os nossos corações na caridade. E, se ainda não o recebestes, não hesiteis em receber o sacramento da Confirmação ou Crisma, preparando-vos com cuidado e solicitude. Junto com a Eucaristia, esse é o sacramento da missão, porque nos dá a força e o amor do Espírito Santo para professar sem medo a fé. Encorajo-vos ainda à prática da adoração eucarística: permanecer à escuta e em diálogo com Jesus presente no Santíssimo Sacramento, torna-se ponto de partida para um renovado impulso missionário.

Se seguirdes este caminho, o próprio Cristo vos dará a capacidade de ser plenamente fiéis à sua Palavra e de testemunhá-Lo com lealdade e coragem. Algumas vezes sereis chamados a dar provas de perseverança, particularmente quando a Palavra de Deus suscitar reservas ou oposições. Em certas regiões do mundo, alguns de vós sofrem por não poder testemunhar publicamente a fé em Cristo, por falta de liberdade religiosa. E há quem já tenha pagado com a vida o preço da própria pertença à Igreja. Encorajo-vos a permanecer firmes na fé, certos de que Cristo está ao vosso lado em todas as provas. Ele vos repete: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,11-12).

7. COM TODA A IGREJA

Queridos jovens, para permanecer firmes na confissão da fé cristã nos vários lugares onde sois enviados, precisais da Igreja. Ninguém pode ser testemunha do Evangelho sozinho. Jesus enviou em missão os seus discípulos juntos: o mandato “fazei discípulos” é formulado no plural. Assim, é sempre como membros da comunidade cristã que prestamos o nosso testemunho, e a nossa missão torna-se fecunda pela comunhão que vivemos na Igreja: seremos reconhecidos como discípulos de Cristo pela unidade e o amor que tivermos uns com os outros (cf. Jo 13,35). Agradeço ao Senhor pela preciosa obra de evangelização que realizam as nossas comunidades cristãs, as nossas paróquias, os nossos movimentos eclesiais. Os frutos desta evangelização pertencem a toda a Igreja: “um é o que semeia e outro o que colhe”, dizia Jesus (Jo 4,37).

A propósito, não posso deixar de dar graças pelo grande dom dos missionários, que dedicam toda a sua vida ao anúncio do Evangelho até os confins da terra. Do mesmo modo bendigo o Senhor pelos sacerdotes e os consagrados, que ofertam inteiramente as suas vidas para que Jesus Cristo seja anunciado e amado. Desejo aqui encorajar os jovens chamados por Deus a alguma dessas vocações, para que se comprometam com entusiasmo: “Há mais alegria em dar do que em receber!” (At 20,35). Àqueles que deixam tudo para segui-Lo, Jesus prometeu o cêntuplo e a vida eterna (cf. Mt 19,29).

Dou graças também por todos os fiéis leigos que se empenham por viver o seu dia a dia como missão, nos diversos lugares onde se encontram, tanto em família como no trabalho, para que Cristo seja amado e cresça o Reino de Deus. Penso particularmente em quantos atuam no campo da educação, da saúde, do mundo empresarial, da política e da economia, e em tantos outros âmbitos do apostolado dos leigos. Cristo precisa do vosso empenho e do vosso testemunho. Que nada – nem as dificuldades, nem as incompreensões – vos faça renunciar a levar o Evangelho de Cristo aos lugares onde vos encontrais: cada um de vós é precioso no grande mosaico da evangelização!

8. “AQUI ESTOU, SENHOR!”

Em suma, queridos jovens, queria vos convidar a escutar no íntimo de vós mesmos a chamada de Jesus para anunciar o seu Evangelho. Como mostra a grande estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, o seu coração está aberto para amar a todos sem distinção, e seus braços estendidos para alcançar a cada um. Sede vós o coração e os braços de Jesus. Ide testemunhar o seu amor, sede os novos missionários animados pelo seu amor e acolhimento. Segui o exemplo dos grandes missionários da Igreja, como São Francisco Xavier e muitos outros.

No final da Jornada Mundial da Juventude em Madri, dei a bênção a alguns jovens de diferentes continentes que partiam em missão. Representavam a multidão de jovens que, fazendo eco às palavras do profeta Isaías, diziam ao Senhor: “Aqui estou! Envia-me” (Is 6,8). A Igreja tem confiança em vós e vos está profundamente grata pela alegria e o dinamismo que trazeis: usai os vossos talentos generosamente ao serviço do anúncio do Evangelho. Sabemos que o Espírito Santo se dá a quantos, com humildade de coração, se tornam disponíveis para tal anúncio. E não tenhais medo! Jesus, Salvador do mundo, está conosco todos os dias, até o fim dos tempos (cf. Mt 28,20).

Dirigido aos jovens de toda a Terra, este apelo assume uma importância particular para vós, queridos jovens da América Latina. De fato, na V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em Aparecida, no ano de 2007, os bispos lançaram uma “missão continental”. E os jovens, que constituem a maioria da população naquele continente, representam uma força importante e preciosa para a Igreja e para a sociedade. Por isso sede vós os primeiros missionários. Agora que a Jornada Mundial da Juventude retorna à América Latina, exorto todos os jovens do continente: transmiti aos vossos coetâneos do mundo inteiro o entusiasmo da vossa fé.

A Virgem Maria, Estrela da Nova Evangelização, também invocada sob os títulos de Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora de Guadalupe, acompanhe cada um de vós em vossa missão de testemunhas do amor de Deus. A todos, com especial carinho, concedo a minha bênção apostólica.

 

Vaticano, 18 de outubro de 2012

Benedictus pp XVI