sábado, 17 de dezembro de 2011

VIDA , SAMBA PARA SAMBAR

Assim que eu quero ser lembrado.
Se existe coisa que me levanta o astral, que faz ressoar dentro de mim todos os acordes da música que tenho na alma, essa coisa se chama um bom samba. 
Dia desses, casualmente, (não sou boa telespectadora) frente à televisão, deliciei-me com a Marron dando à eloquente letra do samba, ao ritmo, à música, ainda mais intensidade, muito mais paixão, muito mais tudo de bom. Cantava de Edsone Aluisio,  não deixa o samba morrer...

Quando eu não puder pisar / mais na avenida,  /  Quando as minhas pernas  / Não puderem agüentar /  Levar meu corpo  / Junto com meu samba /  O meu anel de bamba  /  entrego a quem mereça usar...
Eu vou ficar No meio do povo, espiando / Minha escola perdendo ou ganhando /  Mais um carnaval 
Antes de me despedir /  Deixo ao sambista mais novo  /  O meu pedido final: Não deixe o samba morrer  Não deixe o samba acabar /O morro foi feito de samba  / De Samba, prá gente sambar...(4x) 

Maria Rita também canta, com um gingado de emocionar, enquanto a nossa Marrom, com todo respeito, da sua arroba, continua sambando pra ninguém botar defeito, mesmo que sem a leveza das passistas de sua Mangueira, de um jeito todo e só seu.
A inspiração me chamou a compor essas linhas ao ligar o computador e me deparar com a notícia de que o samba está de luto, JOÃOZINHO 30 FOI PARA O CÉU. Ilustra a notícia uma foto sua em plena avenida, delirando com a “Beija Flor”. Foi encimada com frase que traduz desejo por ele manifestado em alguma hora: é assim que eu quero ser lembrado. No samba, sambando, na avenida, no meio do povo, delirando.
De algum tempo, o Joãozinho já não andava bem, chegou a aparecer em cadeira de rodas, num desfile carnavalesco. A letra do samba enfocado se encaixa como testamento musical do nosso design do samba. Já não podia mais pisar na avenida, suas pernas perderam força e não mais o levavam até lá, junto com o samba.
Imagino quantas vezes sentado em sua cadeira de rodas, ter-se-á posto a cismar, olhando no dedo anular da mão esquerda, a oficial da aliança, aquele seu anel de bamba e pensado quem mais o mereceria usar.
Ao mesmo tempo, ainda que involuntariamente, abandona o primeiro sentimento e dispõe-se a, apesar de tudo, permanecer para sempre, no meio do povo, espiando sua escola passar em todo e qualquer carnaval.
Mas tem que voltar à realidade primeira e certamente fez esse propósito: antes de me despedir, deixo ao sambista mais novo, o meu pedido final: Não deixe o samba morrer. Não deixe o samba acabar. Além do morro todo e qualquer lugar foi feito de samba,
de samba, prá gente sambar.
É assim mesmo, Joãozinho, a vida é um tempo através do qual quem passa somos nós. Não havendo outro jeito, fica como se o jeito tivesse sido dado. Prossegue, estou certa de que, quando você divisou a aurora seguinte àquelas a que estava habituado por aqui, nasceu de novo.
Quando São Pedro estiver distraído, não perca tempo, reúna os bambas que o precederam e com eles organize por lá  uma nova escola, você vai-se sentir prosseguindo por uma vida que é nova.
Não se preocupe porque, mesmo que não tenha tido tempo de pedir ao sambista mais novo, os de todas as idades, enquanto estivermos por aqui, os que amamos o samba tudo faremos, não deixaremos o samba morrer, não deixaremos o samba acabar, na verdade essa vida é um samba, samba pra gente sambar.

Marlusse Pestana Daher
sábado, 17 de dezembro de 2011  18:40