domingo, 24 de julho de 2011

AVENCAS E EU

Já se tornou pública e notória minha afeição pelas avencas. Aquele verde uniforme e aveludado das folhas é simplesmente lírico e embora diversos os tamanhos, as dimensões entre elas não diferem, não as desigualam.
A contemplação de um vaso com Avencas me enche a alma de sentimentos, sinto tudo, mas não sei, não posso descrever. Avencas me falam e eu lhes respondo e o diálogo se estande pelo tempo da contemplação e perdura, enquanto a memória retém as imagens de cada ângulo onde as possa encontrar.
Pergunto-me de onde vem este deslumbramento de como eu gosto das Avencas!
Malgrado meu, nos vasos que já comprei, em outros que já ganhei elas permanecem vivíssimas por um tempo, cuido com carinho, alegro-me com seu viço, converso com elas e demonstrar-lhes ternura é instintivo, não requer sofisticação. Mas fatalmente, depois de pouco tempo, uma folha seca aqui, outra ali, de repente todas estão murchas, revolvo a terra, águo, mas não tem jeito. Não vingam.
Sinto que não sei como tratá-las adequadamente, quero aprender.
Ao deparar-me com aquela passagem de morada antiga ou de um velho claustro, rodeado de verde, tendo como teto avencas, simplesmente delirei.  
E me quedo ali e me deixo possuir pelo pensamento e tudo o mais em volta deixa de existir, o espaço não comporta ninguém mais: somente minhas avencas e eu, juntas nos agigantamos. Passeio nas asas da saudade e embebedo-me com alguma lágrima furtiva que vem compor minha face. As lembranças afloram, há pouco fui criança de novo e cantei roda em noite de lua cheia: se esta rua, se esta rua fosse minha... para o meu bem passear. Posso ser adolescente e voltar a sonhar, afinal de contas estou sonhando mesmo. Sou adulta, sou eu agora e tenho sensação de que as forças continuam plenas e reproponho-me embrenhar-me pela senda das ações exigentes para que o mundo seja melhor, para que o ambiente tenha amigos e seja amado.
Levanto-me do trono que fiz de uma mureta apenas, encho o peito do ar suave e puro que se respira no lugar, olho as avencas, todas, cada uma, em partes, o todo e me repito, quanto são lindas!
Retomo a caminhada, lentamente, em frente, sempre em frente, não sem daqui e dali tocar com suavidade uma folhinha. Galgado o quase topo, onde só me resta superar uma pequena escada, percebi que um vento mais forte soprou e as avencas  balouçam e como que me aplaudem. Emito um gesto de profunda gratidão e respeito em confronto delas, despeço-me.
Prossigo e ante todo esplendor do vale que a minha frente diviso, caminho pela estradinha estreita e em mim se fortaleceu ainda mais a certeza do quanto A VIDA É BELA.
24/7/2011 11:10