terça-feira, 26 de abril de 2011

BELEZA NÃO É FUNDAMENTAL

Na prática do vale tudo para sobreviver, naquela megalópole, reparei que ninguém buscou o belo no que se quis transformar.
São Paulo é um vai e vem sem trégua, cada um vai onde pretende, desvia-se daqui e dali, corre para pegar o ônibus, para não perder o metrô que passa, mas precisa chegar inteiro lá. Pode ter que esperar a passagem de dezenas de carros antes de poder atravessar uma rua e nesse ínterim, a condução que podia fazer chegar mais cedo à casa, não espera e a frustração acontece. Algum tempo passará antes que surja igual oportunidade.
São executivos, operários, de toda ocupação, gente de qualquer raça, desempregados, gente de qualquer casta, religiosos e gnósticos, gente de toda procedência, de todas as idades, de todas as culturas, ambiciosa ou indiferente.
Há ruas que, além do comércio no interior das construções, estão tomadas de vendedores ambulantes que aos gritos oferecem seus produtos, testam em você o aparelho que vendem para provar eficiência. Fico pensando o que seria da gente, se de repente, fizessem o mesmo com depiladores de nariz e orelha.
É enfeiando-se como iniciei dizendo, que se encontra aqui: a estátua viva de um frade imensamente gordo, cabelo à franciscano que retribui com uma mensagem a quem fizer “um depósito no seu chapéu”; ali, um rapaz que colocou seios, bumbum, barriga, todos exuberantes (exuberantíssimos) peruca  embaraçada, alta e carapinha, dentes que impedem os lábios se encostarem, quanto mais a boca se fechar.
No largo de São Bento, um homem travestido, vestido de um azul intenso, seios grandes e pontiagudos, ponchete na barriga (onde guarda o cachê), sapatos pretos, meia soquete branca. Celular na mão, fala frequentemente com alguém da sua terra. Enquanto ouve, faz caretas incríveis, tremula os lábios superiores, bochecha e toda a face, como só ele(a) sabe fazer. A certa altura dispara: Cara, estou em São Paulo há trinta anos, uma maravilha, tudo o que não presta no nordeste está aqui! E na praça ecoam em coro estrondosas gargalhadas.
Todos têm o mesmo objetivo “ganhar a vida”, mesmo à custa de serem ridículos e se tornarem tremendamente feios.
É o vale tudo também pela falta de trabalho digno para todos, é o embrear-se pela primeira saída que encontram na luta pela sobrevivência e pela vida.
Serão artistas? Pode ser. Divertem não se pode negar, ao redor deles onde quer que estejam, há sempre bem mais que uma dezena de quem assiste. O círculo pode ser tão denso que o curioso que passa terá que se aproximar para ver entre ombros o que acontece.  Sem esquecer que não  falta quem queira fotografar-se ao lado deles, claro, para levar para casa como lembrança.
Eu também me diverti e refletia. E surge meu não temor de discordar e se quiser, até pedindo desculpas ao Poetinha, inverto o que ele disse, para afirmar que nesse jogo de luta pelo vale tudo para viver: beleza não é fundamental!